22 de setembro de 2005

A verdadeira revolução de VoIP está por vir

Em tecnologia, o tempo é sempre difícil de avaliar. É fácil ficar entusiasmado com uma nova idéia e imaginar que ela vai tomar o mundo em um ano. No mundo real, o ciclo de adoção é muito mais lento. Muitas boas idéias são dadas como mortas, pois demoram um pouco para amadurecer, e reaparecem anos depois.

Este é o caso da tecnologia de VoIP. Talvez poucos se lembrem (ou saibam) mas lá pelo idos de 1996, um programinha chamado "CUSeeMe" era muito popular entre os pioneiros da Net. Era um programa de videoconferência baseada em IP, que rodava em hardware modesto para os padrões atuais. COmo quase ninguém tinha câmara, era comum usar o CUSeeMe para conversar com outras pessoas, só com áudio, sem vídeo. Na i2 -- empresa da qual eu era sócio na época -- chegamos a brincar um pouco com ele. O Wallace, que era da nossa área comercial, uma vez teve um encontro ocasional na Internet com ninguém menos que o Galvão Bueno. Ele estava no Projac (estúdio da Globo), e havia sido apresentado naquele dia à então "novidade tecnológica", que já chamava atenção de muita gente.

Muitos viram logo de cara o potencial da tecnologia, pensando que em pouco tempo -- um ano, dois anos? -- ela estaria disponível para todo mundo. Obviamente, as coisas não aconteceram desta forma. Havia muito que ser feito para chegar no ponto de amadurecimento da tecnologia. Inovações no hardware, software de melhor qualidade, acesso Internet banda larga, e por aí vai. Passados nove anos, a tecnologia de VoIP parece pronta para tomar o mercado de assalto. O uso de VoIP para economizar em interurbanos está crescendo rapidamente. Mas ainda falta uma coisa, que está para chegar rapidamente, e que vai tornar realidade o sonho da telefonia IP chegando até o ponto final, que é o aparelho do usuário.

Mobilidade. Hoje, o celular já toma o espaço da telefonia fixa. O custo de um ponto de telefone fixo é baixo; o custo do telefone móvel nem tanto. Para uma empresa, não parece muito atrativo trocar um telefone fixo convencional por outro telefone fixo baseado em IP. A economia de VoIP pode ser obtida de forma mais econômica com os gateways instalados nos troncos. Mas com mobilidade, a coisa muda de figura. E é a aí que a tecnologia de WiFi entra para arrebentar.

Hoje, um telefone IP sem fio (usando WiFi) custa em torno de US$ 200,00. Quando este preço romper a barreira mágica dos US$ 100,00, o mercado vai explodir. Um telefone IP sem fio será uma verdadeira revolução na vida das empresas, liberando seus funcionários dos limites de sua mesa para circular dentro da empresa -- e porque não, para qualquer outro lugar que tenha cobertura WiFi. É claro que ainda há desafios técnicos para superar. Mas neste momento, eles parecem pequenos, porque os outros dois fatores críticos para adoção de uma tecnologia (econômico e cultural) já estarão resolvidos automaticamente. É então que a verdadeira revolução de VoIP vai acontecer.

21 de setembro de 2005

O tamanho ideal

Você acha que uma operadora de telecom deva ter conteúdo próprio? Tenho minhas dúvidas. Por trás desta pergunta, há uma série de premissas comuns no mundo corporativo:

  • A empresa precisa ter controle do cliente;
  • A empresa deve explorar todas oportunidades de negócio com o cliente;
  • A empresa deve se antecipar às necessidades do cliente...


Isoladamente, não há nada demais com estas premissas; mas quando aplicadas em conjunto, elas levam ao gigantismo, e consequentemente, a um nível de ineficiência que consome toda economia de escala que uma grande empresa poderia obter. A empresa perde o foco, e deixa de pensar em atender o seu cliente; a manutenção do status quo se torna o seu objetivo máximo.

Porque é tão difícil para uma empresa se manter no tamanho ideal? Uma das razões é a necessidade de manter o crescimento, especialmente para empresas de capital aberto. Outro motivo é o fato de ser muito difícil tomar decisões difíceis, especialmente de enxugamento. No caso das operadoras, o pânico se explica pelo temor de que o seu modelo de negócio não parece ser sustentável a longo prazo. Na telefonia fixa, a concorrência de tecnologias como WiFi e VoIP é um problema real. No mercado de telefonia móvel, há uma queda forte na receita por assinante; o retorno está vindo com o negócio de conteúdo: jogos, torpedos e principalmente a venda de ringtones.

Estes resultados sugerem que o negócio de conteúdo é essencial para a sobrevivência das empresas de telefonia. Mas eu discordo. Penso que o mercado seria muito melhor servido se as empresas de telecom focassem seus esforços em serem boas naquilo que fazem bem: fornecer a infraestrutura de comunicação. Se as margens não são aquilo que costumavam ser, ou se a empresa não é mais tão rentável, a resposta correta não é expandir procurando novos negócios -- é cortar custos e administrar melhor, trabalhando com maior eficiência. A mesma tecnologia que ameaça as empresas está aí para serví-la, abrindo novas frentes de negócio. Basta ter a coragem necessária para enfrentar os fatos, e se adequar à nova realidade que já se impõe.

20 de setembro de 2005

Confrontando os fatos

Sempre tive uma grande admiração por pessoas que demonstram liderança sem excessos ou autoritarismo. Um dos meu exemplos prediletos é o explorador irlandês Ernest Shackleton, que ficou famoso pela incrível história do Endurance -- o navio que, sob seu comando, ficou preso no gelo da Antártida. Shackleton conseguiu um feito impressionante: mesmo perdendo o navio, manteve a tripulação coesa e conseguiu retornar após 22 meses para a Inglaterra sem perder nenhum homem.

Outro exemplo fascinante é James "Jim" Stockdale, comandante da marinha americana que ficou preso por oito anos durante o auge da Guerra do Vietnã. A sua história é repleta de casos de uma resistência estóica, e de uma liderança capaz de manter seus homens coesos no meio de uma situação absolutamente desesperadora. Submetido à tortura frequente, ele não apenas se manteve absolutamente calado, mas conseguiu através de seu exemplo manter outros prisioneiros unidos.

Recentemente, uma história de Jim Stockdale foi publicada em um livro sobre empreendimentos, com o nome paradoxo de Stockdale. Trata-se do seguinte: para sobreviver a condições extremas, é preciso não ser otimista. Segundo Stockdale, não se pode permitir que o otimismo cego nos deprive da capacidade de entender quando uma situação é absolutamente desesperadora. Ele conta que, entre os seus colegas de campo de concentração, os otimistas foram os que morreram; quando esperavam o socorro para o Natal, depois para a Páscoa, depois para o Natal de novo... até que se cansaram, desencantando de viver.

O pensamento de Stockdale é realmente paradoxal. Lendo seus argumentos, nas suas próprias palavras, permite entender melhor o que ele quis dizer. Não é coincidência que ele tenha tido uma carreira acadêmica brilhante, e que depois de aposentado da marinha tenha se dedicado ao estudo de filosofia. Sua própria lição ilustra bem o conceito de estoicismo, tanto quanto outros grandes líderes, como Ghandi ou Martin Luther King. Líderes que souberam se impor pelo seu exemplo, sem autoritarismo, e sem sequer uma autoridade delegada.

18 de setembro de 2005

Simplicidade matemática

Um comentário interessante sobre a simplicidade na matemática, ou trigonometria sem senos ou cosenos: "Unfortunately, mathematics lectures at Cambridge left me with the permanent belief that mathematicians' ideas of what is simple and what is complex merely illustrate the fact that physics and engineering use math, but they use a useful subset (which changes with time) and do not necessarily buy into ideas which mathematicians regard as self-evident.".

Também tive esta experiência com alguma frequência, especialmente nos poucos meses em que estudei na Faculdade de Física da UFMG. E é verdade; os físicos mais graduados da escola demonstravam uma impaciência enorme com qualquer um que não se mostrasse capaz de entender imediatamente a simplicidade evidente de alguns conceitos. Por que será? Simples consequência de estarem tão imersos neste conhecimento a ponto de terem-no como óbvio, ou apenas a mostra de que a mente das pessoas é estruturada de forma totalmente diferente? Acredito na segunda explicação; físicos teóricos e matemáticos tem uma visão especial, uma compreensão da matemática pura que a maioria das pessoas não compartilha. Infelizmente, estas mesmas pessoas tem suas limitações, e são frequentemente incapazes de se comunicar com clareza com outras pessoas. Resultado? Professores impacientes, alunos relapsos. Perdemos todos.