10 de outubro de 2005

Quadrinhos

Durante um bom tempo, fui fã de quadrinhos. Quando era criança, ler gibis era coisa normal, comum: Turma da Mônica, Pato Donald (as histórias da série do Superpato eram o máximo!), e outros. Depois, me interessei por histórias diferenciadas, como a série Asterix, com um humor um pouco mais sofisticado. Mas houve uma fase que eu achei particularmente interessante, que me leva ao blog de hoje.

No fim dos anos 80, começaram a surgir no Brasil as chamadas "Graphic Novels". Eram um produto diferenciado para a época. Ao invés da impressão em papel de terceira categoria, papéis especiais, e tintas fortes. Foi quando mestres como Frank Miller, Alan Moore, e Bill Sienkiewiks ficaram conhecidos. Na época, fiquei fascinado pelo traço dos artistas, e pela forma contavam histórias: com profundidade, com complexidade, com uma perspectiva humana. Ao longo dos anos 90, a influência desses artistas se expandiu para o cinema. Nos anos 60, os filmes e seriados de super herói ganharam uma aura kitsch que quase custou a eles todo seu espaço de mercado, graças a produções como o famoso Batman da TV. Mas nesta nova fase, os filmes de super heróis ganharam uma nova vida, e não foi só por causa dos efeitos gráficos melhores, mas principalmente pelas histórias mais sólidas. Se hoje temos Homem Aranha (1 e 2), Quarteto Fantástico e X-Men, é em grande parte graças a estes artistas que revitalizaram os quadrinhos. Mesmo hoje -- Sin City (do mesmo Frank Miller que reinventou o Batman) é um dos grandes sucessos de crítica este ano, e V de Vingança (V for Vendetta no original em inglês) é aguardado com grande expectativa para 2006.

Semana passada, depois de muitos anos sem ler quadrinhos, sem nenhum motivo em particular, fiquei folheando as revistas em uma banca. Várias das histórias que eu mais gostei foram reeditadas - caso de Watchmen, que ficou marcada por uma frase forte ("quem vigia os vigilantes?"), e que incidentalmente é a referência fundamental para o ótimo "Os Incríveis", da Pixa; e o Cavaleiro das Trevas, que é uma grande leitura até nos dias de hoje. Na banca, senti um pouco o excesso de oferta, principalmente pela grande quantidade de mangás de qualidade duvidosa, assim como as histórias bem desenhadas, mas sem o mesmo conteúdo forte da fase áurea das Graphic Novels. Suspeito que naquela época de mercado embrionário, somente as melhoras obras mereciam uma aposta na publicação. Hoje o mercado amadureceu, e esse tipo de HQ já tem público cativo no Brasil. Mas que fica mais difícil garimpar as gemas legítimas em uma banca, isso fica.

5 de outubro de 2005

Um ano ou cinco

"Some people seem to think that we got where we are overnight. Not so. I've been doing Linux for 15 years, and hey, if it takes another 5 or 10 for the desktop to be a big part of the market, that's what it will take." Business Week: Torvalds' Baby Comes of Age
Já ouvi dizer, não me lembro exatamente de quem, que nós temos uma tendência a superestimar o que podemos fazer em um ano, enquanto subestimamos o que podemos fazer em cinco. O resultado é ruim: ansiedade em tentar fazer o impossível, frustração por não atingir as metas de curto prazo. Deveríamos viver mais lentamente, entendendo que o tempo capitaliza as mudanças de uma forma progressiva; assim chegaríamos mais longe.
A frase do Linus Torvalds sumariza bem este pensamento. Todo ano é tido como 'o ano do Linux'. No fim do ano, analistas comentam que apesar das melhorias, o Linux ainda não emplacou. Falta pensar no longo prazo. Se olharmos as estatísticas, a cada ano a fatia de mercado do Linux aumenta. Pra quê ficar ansioso, e querer dominar o mercado em um ano? Se é para demorar cinco, ou dez, que seja assim. Pena que seja tão difícil entender as coisas dessa forma.

2 de outubro de 2005

Cinema, plebiscito, e a falácia do consenso

Li hoje que a indústria de Holywood finalmente começou a admitir que a queda de faturamento que ocorreu este ano não se deve à alta do petróleo ou o terrorismo internacional, mas sim porque os filmes eram ruins mesmo. E eram, isso é fato. O artigo também comenta que o conservadorismo dos estúdios faz com que filmes independentes, que assumem maiores riscos, pareçam bons em comparação.

Esta história me leva a pensar em outra relacionada: até que ponto dá para acreditar na opinião das pessoas? Em outras palavras, será que as pessoas sabem realmente o que querem? Eu sinceramente duvido. Em um teste de audiência, imagino que muita gente possa considerar o final de um filme ruim, pedindo uma mudança -- um final feliz, por exemplo. Mas este mesmo final feliz pode tirar toda a graça da história; ironicamente, na intenção de agradar, o filme pode acabar se tornando um fracasso.

Acho que muitas vezes, nós precisamos ser provocados. Precisamos da polêmica, precisamos discordar. Ao tentar agradar a todos, a indústria do cinema consegue apenas se tornar asséptica e sem sabor. Mas será que ela é a única a fazer isso? Suspeito que não. A busca do consenso é uma das grandes falácias da democracia (segundo Churchill, o pior sistema de governo que existe excetuando todos os outros). Não há muita opção, é verdade, mas o risco existe.

Todo este argumento nos leva ao plebiscito sobre a proibição de venda de armas. Não sei se este plebiscito é uma boa idéia. Ao forçar uma decisão, cria-se uma polarização total, cujo resultado pode ser imprevisível. Se a possibilidade da venda de armas for mantida, podemos começar a viver uma nova era, incluindo aí a possibilidade de marketing de armas, e até de uma 'corrida às armas' caseiras. A . Já o voto no 'sim' também oculta riscos semelhantes; que o desarmamento seja acelerado em um país que hoje ainda não oferece as condições de segurança para que ele seja levado às últimas consequências. O pior é que, qualquer que seja o resultado, vai ficar a dúvida: será que as pessoas sabem realmente o que querem?