12 de abril de 2007

Subculturas

A Internet é cada vez mais um lugar diversificado. Este fenômeno se comprova a cada dia. A população original da Internet era predominantemente ligada ao meio acadêmico, e se comunicava em inglês. Quem não soubesse inglês, ficava de fora, ou era ativamente discriminado. Hoje o inglês ainda é considerado a lingua franca da Internet; porém, em termos absolutos, a situação se inverteu e a maioria dos usuários que só se comunica no seu próprio idioma. Quem só navega páginas em inglês pode estar perdendo tendências importantes.

O interessante é ver como esse fenômeno foi largamente ignorado. Nos anos 90, a elite da Internet temia que esta acabasse, vítima da fragmentação causada pelos provedores de conteúdo. Diga-se de passagem, sempre achei que as pessoas dão importância demais para os provedores de conteúdo. Mas lembrando Andy Warhol, a era dos 15 minutos de fama chegou. Blogs e YouTube são ferramentas para que cada um se faça ouvir. Em 2006, o "homem do ano" da revista Time foi... você. You. E no final das contas, quem está fragmentando a Internet não são as empresas, e muito menos os governos (que vem tentando exercer seu controle com cada vez mais força). São as pessoas.

Como toda transformação, a mudança da Internet "english only" para uma Internet realmente globalizada é lenta mas irresistível. O fenômeno só não é mais visível hoje devido à dificuldade que as empresas vem encontrando de capitalizar o potencial das comunidades. Cada comunidade representa uma subcultura, que se organiza de forma mais ou menos autônoma em torno de algum interesse comum. É a subcultura do Orkut (grande suficiente para ser vista da Lua), a subcultura do Kazaa, ou a subcultura dos oekakis (já havia ouvido falar disso?).

Falando o óbvio, a grande oportunidade está nas ferramentas que permitem que as pessoas consigam encontrar as coisas que realmente lhe interessam. Hoje é óbvio, mas não era em 1999, quando o Google foi fundado. Na época a grande onda eram os portais (olha aí a obsessão pelo provedor de conteúdo manifestada ao máximo). O principal motivo pelos quais os portais falharam foi a sua incapacidade de se adequar às reais necessidades das pessoais, de entender as subculturas da Internet.

No fundo, não estamos vendo nada de novo. Há quem ache que a massificação é um fenômeno recente; no entanto, a história mostra que ela é um fenômeno social cíclico. A massificação não escala tão bem como muita gente imagina. Todos os grandes movimentos sociais da história foram seguidos de fragmentação. Por isso, achar que as ferramentas de comunicação em massa permitiriam uniformizar o consumo ad infinitum é um grande engano. Dentro de uma massa uniforme, as pequenas diferenças logo se destacam, atingem massa crítica, e levam ao surgimento de subgrupos e subculturas. Com o tempo a diferença se torna tão grande a ponto de se tornar incontrolável. A Internet é apenas mais um meio para que essa propriedade intrínseca dos grupos sociais se manifeste. Por isso, sejamos todos bem vindos à nossa, à sua, à nova Internet.