6 de fevereiro de 2010

Novas ferramentas para programação visual

Muita gente associa o termo "programação" com letras passando por uma tela monocromática, ao estilo Matrix. Listagens complicadas, cheias de números e palavras em inglês. Essa imagem tem uma certa base na realidade; a grande maioria dos programas de computador é expresso em forma de texto, em linguagens como Java, C, PHP, Basic e outras. Mesmo linguagens visuais como o Visual Basic operam com base em comandos textuais, sendo que a parte visual se limita ao design de telas e formulários. É uma diferença radical de outras disciplinas experimentais, que envolvem a manipulação física de objetos - e é também uma grande barreira para que mais e mais pessoas aprendam a programar um computador.

Uma nova geração de linguagens está mudando esta realidade. Algumas são projetos educativos, como é o caso do Scratch, desenvolvido pelo MIT, e do Kodu, desenvolvido pela Microsoft Research.

O Scratch é um ambiente de prototipagem gráfico, onde o programador manipula objetos multimídia. O programa é montado como se fosse um Lego, com blocos que se encaixam; estruturas de controle como loops e testes são visualmente representadas dessa forma. A página contém bastante conteúdo em português, que vem sendo traduzido por voluntários da comunidade.

Já o Kodu é uma ferramenta completamente diferente, que opera em um ambiente 3D, com "atores" que realizam ações que podem ser programados de forma interativa. A linguagem foi originalmente desenvolvida para o Xbox, mas foi portada recentemente para o PC e está disponível para os interessados. (Aviso: a plataforma ainda é experimental e tem vários bugs).



O Sikuli, também desenvolvido pelo MIT, tem um objetivo diferente - mas ainda assim interessante. O Sikuli permite especificar scripts com componentes visuais, e é efetivamente um "cruzamento" de uma linguagem textual (no caso, um dialeto de Python) com elementos gráficos. A linguagem permite automatizar qualquer tipo de tarefa que possa ser feita em um ambiente GUI. Isso inclui desde aplicações pessoais ou domésticas (por exemplo, verificar o status de uma aplicação) até aplicações profissionais como teste de software.

É interessante comparar esta nova geração com algumas das tentativas pioneiras, como foi o caso do Logo, que teve relativa popularidade nos primórdios da microinformática e foi usado em vários experimentos de ensino de informática no começo dos anos 80. Outro exemplo foi o Hypercard, muito popular na era "pré-Web", e que foi o precursor de várias idéias largamente utilizadas hoje em dia - entre elas wikis e a própria Web.

A grande diferença é a maturidade da tecnologia, e a sua integração com outros elementos do ambiente. Os programas feitos hoje não se limitam a desenhar na tela, e podem expressar condições lógicas bem mais ricas. Outro ponto interessante é que a tecnologia usa recursos "não determinísticos"; em vez de uma precisão matemática rigorosa (por exemplo, contando pixels na tela), são usados gestos e movimentos aproximados, ou (no caso do Sikuli) um sistema de visão artificial sofisticado que trabalha com imagens aproximadas.

O desenvolvimento dessas novas ferramentas vem em boa hora. Linguagens de uso educativo são importantes para atrair novas pessoas para a área de desenvolvimento. Os sistemas que serão desenvolvidos nos próximos anos certamente precisarão de outros paradigmas - mais visuais, mais interativos, e acima de tudo maciçamente paralelos. É preciso desenvolver novas formas de expressar a solução de problemas - e é nesse ponto que uma nova linguagem pode se mostrar útil e necessária.

25 de janeiro de 2010

Em busca do guardanapo ideal

Dessa vez eu passei dos limites e fiquei um ano sem escrever neste blog. Mas não estava parado. Tenho postado artigos no ReadWriteWeb Brasil e iMasters, e tambpem mantido alguns toques aqui e ali no Twitter. Mas o post de hoje não é sobre isso, é sobre idéias que eu tenho desde que comecei a mexer com computadores, na época em que a gente ainda sonhava com chips e com projetos eletrônicos.

Formei no COLTEC em 1983, como Técnico em Eletrônica. Meu primeiro estágio já foi em informática, algo atípico na época, mas compreensível tendo em vista que desde o final do 1o ano de colégio eu já estava envolvido com o assunto - primeiro com calculadoras programáveis, depois com computadores como o NE2000, TK85 e CP200. Tive a sorte de ter um NE2000 com 4 KB de ROM - nem lembro quanta RAM ele tinha.

Logo que eu saí do COLTEC, já trabalhando com Apple II, eu mantive contato com alguns amigos. Tivemos uma discussão na casa do Marco Antônio, o "Gordo" ou "Sasquatch" (quem lembra do "Homem de Seis Milhões de Dólares"?). O outro cara que estava com a gente era o Feu, ou Aufleury (se não me falha a memória - aliás eu duvido que algum dos dois se lembre disso). A casa do Gordo era na Sergipe, onde hoje fica um prédio imenso, pertinho do Redentor. Pensamos em fazer algo que seria um PDA - uma agenda eletrônica de bolso, a pilha, com tecladinho alfanumérico e display LCD de duas ou quatro linhas, para manter informações pessoais na mão sempre. Obviamente que isso nunca foi para a frente.

Alguns anos depois, eu fiquei um tempão pensando em outro tema que me interessava, que eram os antigos "jogos sociais" de tabuleiro. Antes do videogame e coisas parecidas, era comum a molecada se reunir de noite e ficar jogando Banco Imobiliário, Detetive ou War até altas horas. Entre meus 12 e 20 anos, perdi a conta de quantas noites passamos jogando assim. Já estávamos nos anos 90 e começavam a aparecer os primeiros notebooks com tela LCD colorida. Minha idéia era revigorar esse tipo de jogo com uma plataforma digital. Teríamos um display LCD colorido, grande, que ficaria no lugar do tabuleiro. Cada jogador ficaria com um controle na mão, que também teria seu próprio display. O tabuleiro permitiria jogar qualquer jogo - War, Banco Imobiliário, ou alguma outra coisa qualquer. Seria um videogame social, de raciocínio, do tipo que mantém as pessoas horas à mesa conversando (e não tão concentradas em seus próprios movimentos que se esquecem de fazer companhia umas às outras).

Bem depois, com o desenvolvimento da Web 2.0, uma outra idéia me veio à cabeça: criar uma plataforma para trabalho colaborativo, flexível como só o lápis e papel podem ser. Uma das idéias recorrentes é uma planilha que começa com uma folha em branco - ao invés de uma grade fixa de linhas e colunas, a planilha pode ser criada em qualquer lugar da folha, riscando um quadrado e as linhas divisórias. A idéia nunca foi além do "protótipo mental", mas representa para mim a captura de uma crença antiga: o verdadeiro computador pessoal será o "guardanapo ideal", um pedaço de papel digital onde podemos rabiscar idéias e desenhos, fórmulas e programas. Seria a combinação de leitor de livros eletrônicos e bloco de notas perfeita para trabalho e estudo.

Chegando aos dias de hoje, eu fiquei bastante entusiasmado com a idéia do Apple Tablet. À primeira vista, apostei mais na idéia do guardanapo ideal do que na idéia de uma máquina de mídia, um tipo de iTouch turbinado. E ainda acredito muito nisso. Mas vendo as notícias dos últimos dias, e o grande foco em mídia digital e jogos que tem sido dado, me lembrei do "jogo social de tabuleiro". São idéias complementares e que podem ser suportadas em um só dispositivo.

É por isso que eu acredito que no próximo dia 27, veremos um lançamento realmente diferente por parte da Apple. E será uma combinação de vários sonhos de quase 30 anos de carreira - um misto de PDA, máquina de jogos sociais, leitor de livros e bloco de notas. Tem tudo para ser revolucionário. É essa minha expectativa, e é por isso que eu pretendo acompanhar de perto. A tecnologia está disponível, e se a Apple não acertar agora, alguém o fará em breve!

5 de novembro de 2008

Abaixo a ditadura do email

Melhor começar com uma admissão: sou um maníaco por email. Tenho email desde 1992. Até hoje, tive umas cinco ou seis contas apenas, para uso profissional e pessoal. No campo particular, levei a sério a proposta do GMail - "search, don't file", "never delete another email". Tenho vários anos de comunicação arquivadas. Mas hoje vejo que a dependência excessiva do email é cada vez mais um problema, especialmente no uso profissional. E talvez por ser um fã confesso do email, meu manifesto possa ser levado mais a sério.

Antes da Web, o email foi o primeiro "killer app" da Internet. Mesmo nos dias de hoje, com Web 2.0, o email ainda é extremamente importante. O endereço de email é a forma mais reconhecida de identidade digital - e isso tende a se manter com o uso do OpenID. O email é o fax do século XXI. Não há negócio que sobreviva hoje em dia sem comunicação eletrônica, e para isso o email é essencial.

A questão é que o email se tornou tão central para o trabalho que se transformou em um problema. As pessoas enviam emails redundantes, de uma linha, para dizer algo que poderia ser dito pessoalmente ou por telefone - ou pior ainda, para dizer algo que nem precisava ser dito. As cópias também são um problema. Copie pessoas demais, e será tachado de "spammer". Copie pessoas de menos, e será acusado de centralizar processos e de não se comunicar bem. Outro componente é a ansiedade do email - o hábito de ficar olhando o email minuto a minuto, esperando ansiosamente que o próximo email apareça para ser respondido. No final, ficamos escravos do email, sob uma legítima ditadura.

Existem diversas razões para isso. Primeiro, o caráter passivo do leitor de email, acostumado a digerir o "inbox" da forma como ele se apresenta. Segundo, o fato de que o email encoraja o tratamento da informação como algo pessoal (ligado ao nome do destinatário) e não como algo "processual" ou "sistêmico", de propriedade da empresa. Esse procedimento cria ilhas de informação que não circula adequadamente. Aliás, a quantidade de conhecimento que a empresa perde quando deleta a caixa de email de um funcionário demitido é absurda. E finalmente, temos o fato de que o email mistura vários conceitos em uma panela só. É uma ferramenta de arquivamento de conteúdo, notificação, workflow, e organização de informação, entre outras coisas - e isso tudo sem que seja a melhor solução para qualquer uma dessas coisas.

A crise hoje é evidente. Empresas como a Intel estão experimentando um dia sem email. O blogueiro Roberto Scoble fala de uma "crise do email empresarial", que ele percebeu quase que por acaso em uma palestra na Cisco (que ironicamente acaba de adquirir uma empresa de software de email).

A solução para a "crise do email" é radical. É preciso abolir o email como o conhecemos. Em seu lugar, ferramentas colaborativas permitiriam o tratamento adequado da informação, distibuindo-a dentro de processos bem mapeados, garantindo acesso sem causar sobrecarga. O papel do email seria revisto. Ao invés de ser a central de geração, notificação, consumo, arquivamento e roteamento de informação, o email passaria a ser apenas um dos canais através dos quais os sistemas se comunicariam, especialmente entre empresas. Isso tudo é possível. A tecnologia já existe através da Web 2.0. Falta o mais difícil, que é quebrar hábitos existentes e criar novos - mas isso também pode ser feito com calma, criatividade e determinação.

Quer ajudar? Pense em como seria sua empresa se o email não existisse. Talvez as coisas possam ser muito melhores do que são hoje.

7 de setembro de 2008

Alfabetização visual

Discutindo o surgimento da geração vídeo e importância da educação digital, surge uma dúvida: a educação formal teria algo a contribuir na preparação das novas gerações para uma comunicação cada vez mais visual e interativa?

Quem é pai ou convive com crianças e adolescentes hoje em dia sabe que essa geração utiliza os recursos de comunicação digital de uma forma totalmente diferente da nossa. Isso é totalmente natural, e não é muito diferente da relação que pessoas da minha geração (na casa dos 40 "baixos") criaram com o telefone, com a televisão e com o videocassete (na época, o ícone da "tecnologia que invadia as casas"). Cada geração abraça a tecnologia de sua época e a utiliza melhor do que as gerações anteriores.

Qual seria o papel da educação formal nesse momento? De fato, somos construídos para operar num mundo visual e interativo, o que nos torna mais ou menos preparados para operar num ambiente multimídia. Porém, daí para conseguir se expressar bem, vai uma grande distância, e é aí que a educação formal pode contribuir, direta e indiretamente. Nas palavras de Garr Reynolds, ex gerente mundial de relacionamento com usuários da Apple, isso é visível pela qualidade das apresentações feitas em Powerpoint:

"Obviously reading and writing, etc. are very important. No one is saying we need less of that. The problem is the visualization capabilities that are naturally within us never get fully developed in most of us. I wonder if this is part of the reason why most presenters fall into the old and excruciating bullet-point trap."

Desenvolver plenamente a habilidade de comunicação requer mais do que nossa capacidade inata. Existem técnicas efetivas e "melhores práticas". Também existem armadilhas conhecidas que devem ser evitadas. A escola pode ajudar diretamente (com aulas específicas), e também indiretamente, ao estimular o uso dos recursos audiovisuais dentro do ambiente pedagógico. Ao invés de uma redação sobre as férias, um filme de 5 minutos, colando fotos e narração. Ao invés de um cartaz para a feira de ciências, uma apresentação interativa no website. É a melhor forma de preparar essa nova geração para um mundo onde a capacidade de comunicação visual pode ser fundamental para o sucesso profissional.

25 de agosto de 2008

Rumo à Geração Vídeo

Filosofando sobre o post do Eduardo Rabboni sobre educação digital, fica cada vez mais evidente a necessidade de se pensar em uma educação mais adequada para a realidade que se apresenta para as crianças e adolescentes de hoje. Alguns itens são fundamentais, como aprender a proteger a identidade digital, pesquisar na Internet para fazer trabalhos, ou lidar com a sobrecarga de informação. Também se torna cada vez mais importante saber identificar ameaças e conteúdos perigosos, como vírus e coisas do tipo.

Mas não é só no comportamento online que a escola precisa ser atualizada. A educação tradicional ainda é fortemente baseada na linguagem escrita. Existem inúmeras razões para isso, até mesmo de ordem prática. A escrita se firmou como a forma mais fácil e precisa de registrar idéias. O alfabeto partiu dos hieroglifos e evoluiu no sentido da simplicidade. As características da linguagem escrita (e especialmente do alfabeto ocidental) permitiram o surgimento de tecnologias como a imprensa, que baratearam a difusão de conhecimento.

A mudança vem a reboque da tecnologia. Pela primeira vez na história, a expressão de idéias em forma gráfica e visual se torna possível em larga escala. Recursos como câmeras fotográficas digitais, câmeras de vídeo, Photoshop, Flicker, e tantos outros, tornam a edição de imagens e vídeos acessível para qualquer pessoa. O resultado é a explosão de serviços como o YouTube e o próprio Flicker. Mas essa mesma tecnologia também serve para salientar o crescimento de um "gap" entre aqueles que realmente sabem trabalhar com essas ferramentas e o restante das pessoas.

Somos muito influenciados pelas imagens. Para ler um livro, uma pessoa precisa ser minimamente alfabetizada; por outro lado qualquer pessoa pode observar uma foto ou assistir um filme e entender do que se trata, de forma muito mais natural. Mas poucas pessoas sabem se expressar realmente bem nesses meios. Escrever bem já é complicado (que o diga a qualidade do português de nossos universitários), mas produzir e editar um vídeo requer muito mais do que conhecimentos linguísticos; requer senso estético, domínio da dinâmica do tempo, e conhecimento das nuances psicológicas transmitidas por cada imagem.

A evolução da comunicação por meio de vídeo tem tudo para criar uma divisão no mercado de trabalho entre as pessoas que sabem trabalhar e produzir material nesse formato e o restante das pessoas. Candidatos que consigam pensar e trabalhar em termos de imagens conseguirão melhores resultados. Também serão mais eficientes (e eficazes) na sua comunicação, e terão melhores oportunidades de trabalho. Hoje nossas escolas estão despreparadas para esse futuro, e não existe ainda nenhum movimento nesse sentido. Ainda estamos transpondo o abismo anterior, da inclusão digital. Mas o abismo da expressão digital e da interatividade continua crescendo. Da forma como vamos, gostando ou não disso, caberá aos pais cuidar para que seus filhos consigam ter uma educação adequada, desenvolvendo a compreensão desse novo mundo, de forma que possam estar melhor preparados para o seu próprio futuro.

21 de agosto de 2008

Só para convidados

O telefone foi uma das maiores revoluções da história da humanidade. Além de encurtar distâncias, o telefone é democrático: qualquer telefone fala com qualquer outro, basta saber o número. É essa liberdade que garante que você possa consultar o catálogo para agendar um médico a qualquer hora do dia, ligue para telefones anunciados nos classificados dos jornais, ou fale com alguém com quem nunca falou antes para se apresentar, fazer negócios, ou simplesmente conversar.

A revolução da telefonia IP ameaça o fim desse "sonho democrático". A única coisa que impede que o seu telefone seja bombardeado por chamadas de telemarketing é o preço da chamada. Se a telefonia for gratuita (ou muito barata), vamos descobrir que os "spammers" de voz podem ser muito piores do que os "spammers" de correio.

Hoje, "grosso modo", o telefone fica disponível 100% do tempo (exceto quando está ocupado, mas isso não vem ao caso). O identificador de chamada do celular já permite um certo nível de controle, porém ainda é impreciso e totalmente manual. Novas tecnologias permitirão que os usuários controlem com mais rigor sua disponibilidade, automatizando a filtragem das chamadas. Assim, é possível que nesse novo mundo os telefones deixem de ser democráticos e passem a ser "só para convidados". De forma similar ao que acontece com o MSN, você só receberá chamadas das pessoas que tiver autorizado previamente.

É discutível se esse novo mundo será melhor do que o mundo de hoje. Usando uma expressão "gringa", joga-se fora o bebê junto com a água da banheira. Vamos ganhar conforto e controle. Vamos perder diversidade, e a chance de estabelecer novos contatos. Podemos nos fechar em ilhas, e perder oportunidades que teríamos ... "se tivéssemos atendido aquela ligação".

18 de agosto de 2008

O crescimento da "blogosfera brasileira"

Comecei com esse blog alguns anos atrás para experimentar com o formato. Queria fazer um blog em português, onde pudesse falar um pouco de tudo: tecnologia, negócios, e um pouco do lado pessoal. A idéia foi muito influenciada pela experiência de ler os principais "blogs" americanos. Lá fora, jornalistas e executivos de grande experiência produzem blogs com um conteúdo altamente valioso. Mas conversando sobre blogs no Brasil (e especialmente blogs corporativos), a primeira reação é de descrença. Surgem várias perguntas:

- Será que esse tipo de coisa pega no Brasil?
- O que é que eu ganho produzindo informação "de graça"?
- Será que não é perigoso abrir informações da empresa assim no mercado?
- Será que isso tudo não é modismo e perda de tempo?

Por muito tempo, a carência de bons blogs brasileiros parecia comprovar as alegações dos "conservadores de plantão": o brasileiro não gosta de ler (e muito menos de escrever), isso é só um modismo, etc. Mas aos poucos as coisas mudam. Um exemplo são os podcasts - a CBN, por exemplo, disponibiliza podcasts diários de seus comentaristas. A organização ainda não é a ideal - deveria ter um canal RSS para cada comentarista, o que facilitaria para seguir somente o conteúdo desejado - mas já é um progresso.

Outro exemplo alentador é o blog do Jucelino Sousa, presidente da AleSat Distribuidora de Combustíveis. O blog é atualizado quase diariamente, e como um bom blog, cobre um pouco de cada coisa da rotina diária do executivo: família, futebol, olimpíadas... além é claro de posts excelentes com análise do mercado brasileiro de distribuidoras de combustíveis, e curiosidades sobre o setor.

Não sei quantos outros executivos brasileiros conseguiriam fazer o que o Jucelino faz. Vendo o perfil dele (no próprio site), vemos que é um executivo novo (42 anos), com sólida formação acadêmica como engenheiro químico e uma carreira cheia de realizações. Talvez essa combinação de idade, conhecimento técnico e empreendorismo o torne um pouco mais propenso a experimentar com o formato. Mas pode ser também um pequeno "sinal dos tempos" e da própria maturidade da blogosfera brasileira.

Esse tipo de postura vem sendo adotada aos poucos por grandes executivos e líderes mundiais. Hoje em dia pode parecer irrelevante, mas por trás disso existe uma postura mais aberta, focando na comunicação e com a colaboração. Vários especialistas acreditam que essa postura trará grandes ganhos para as empresas que as adotam a longo prazo, à medida que o mercado amadurecer. Se uma empresa de um setor tão tradicional como a ALE consegue fazer isso, talvez seja sinal de que a mudança esteja mais próxima do que imaginamos.