26 de julho de 2007

Assimetria de interesses

Se você quer ser lido, escreva bem e escreva pouco. Se você quiser que o trabalho da sua equipe seja realmente produtivo, escreva bem e escreva pouco. Invista seu tempo escrevendo. A economia vale a pena.

Existe uma assimetria de interesses entre o autor e o leitor. O autor investe tempo na criação de conteúdo, enquanto o leitor investe tempo para consumir o conteúdo. Se cada um pensar apenas em si, o tempo do outro não interessa.

De que lado a corda arrebenta? Antigamente - quando o conteúdo era escasso, caro e difícil de encontrar - a corda arrebentava do lado do leitor. A gente comprava o livro que tinha para comprar ou ficava sem saber. Porém, a possibilidade de pesquisar (viva Google!) mudou a equação. É cada vez mais fácil achar o que se quer. Cabe agora ao autor respeitar o tempo do cliente.

O YouTube mostra bem o que está acontecendo. Basta ver a duração média dos clipes disponíveis - coisa de três, quatro, cinco minutos. Nos blogs bem sucedidos, existe uma tendência de escrever "posts" no estilo "short message". Um parágrafo, conteúdo concentrado. Redigir bem, e redigir textos curtos, é responsabilidade do autor.

No trabalho, eu passo por chato, porque insisto que resumir as informações é responsabilidade de quem envia, e não de quem lê. Se você recebe um documento de 100 páginas e dá forward para dez pessoas, está desperdiçando o tempo de todas elas. Se você já leu, pode escrever um resumo - o tempo que vai gastar para fazer isso é com certeza muito inferior ao tempo total que as dez pessoas gastarão para ler. E é tudo tempo da empresa, no fim das contas.

(Agora, se você não leu o documento de 100 páginas, para que está encaminhando para outras pessoas?)

9 de julho de 2007

Will The Real Open Source CRM Please Stand Up? | Open Source Initiative

I have posted a comment on the VTiger x SugarCRM, on a very interesting discussion asking "if there's a true open source CRM" in the market. Worth reading (the article, not necessarily my post).

6 de julho de 2007

Desenhando soluções viáveis

Soluções criativas são sempre interessantes. Assistindo a uma palestra do TED sobre a evolução do design baseado nas necessidades humanas, ouvi falar pela primeira vez sobre o projeto KickStart.

A KickStart é uma ONG que se especializou em criar ferramentas para combater a pobreza. O raciocício é simples: se existem empreendedores nos países ricos, também devem existir nos países pobres; o que lhes falta é a oportunidade de exercer o seu espírito empreendedor. Um dos problemas é que as ferramentas que usamos no ocidente não são adequadas para esses pequenos empreendedores; elas custam caro, são complicadas e difíceis de manter, e na maioria dos casos não refletem a realidade de um país africano. Assim, a KickStart oferece algo parecido com "kits", de tecnologia simples, desenhados para resolver problemas específicos ligados à realidade da região assistida. Existem kits para prensar óleo de girassol, para bombeamento de água para irrigação, e para construção civil.

Usando um modelo de negócios baseado em soluções simples e baratas, a KickStart já conseguiu alavancar mais de 50.000 novos pequenos empreendimentos em países pobres como Tanzânia e Quênia. Os negócios gerados por essas empresas representam um percentual ainda pequeno, mas mensurável do PIB desses países.

Pergunta: Se esses números são possíveis em países que estão efetivamente muito mais atrasados do que o Brasil, o que seria possível fazer por aqui?

5 de julho de 2007

Olha-olha-olha a água mineral

"Olha olha olha a água mineral
Especial
Você vai ficar legal
!"

Uns dez anos atrás, li uma matéria que projetava o crescimento do consumo de água engarrafada como uma das grandes tendências de mercado. Na época, pensei, "mas porque a gente iria pagar por água se temos água filtrada de boa qualidade em casa"? Pois é. Dez anos se foram, e hoje, o mercado de água mineral é um dos mais cresce no mundo todo.

A lógica do mercado de água mineral é um tanto quanto discutível. Pagamos por um produto que custa quase nada na torneira. A qualidade não é tão diferente assim, pelo menos aqui em Uberlândia ou em Belo Horizonte - não posso dizer em outras cidades do Brasil. Para cada garrafinha de água chegar ao consumo, consumimos energia elétrica para engarrafar e refrigerar; combustível, para distribuir; e ainda poluimos o ambiente com milhões de garrafinhas.

O irônico nisso tudo é que eu sou pessoalmente um aficcionado por água com gás. Esse ano, na minha viagem de férias de janeiro, fiz questão de ir na fonte da água mineral em São Lourenço, só para beber água com gás direto na fonte (isso mesmo, já sai da fonte com as bolhinhas). Depois fui em Cambuquira, onde a água é ainda melhor, apesar do abandono da fonte. O que atrai nesses lugares, tanto quanto a pureza e o sabor da água, é a história por trás dela - coisa que a água engarrafada muitas vezes apenas "encena", criando marcas e nomes míticos para fontes que não tem o mesmo charme.

Os argumentos pró e contra a água engarrafada são muitos. Uns dizem que é indefensável pagar um real por algo que a natureza dá praticamente de graça, cujo custo vem quase que exclusivamente do processo de distribuição e marketing. Já outros argumentam que é uma substituição simples - se você tomasse uma Coca-cola, iria poluir o ambiente tanto quanto ou mais, e ainda iria fazer mal para a saúde. Optar pela água não representa custo adicional. Sei lá. É algo que de alguma forma incomoda, e que precisa ser melhor pensado.

p.s. Só depois de ter escrito esse post, fiquei sabendo de um protesto na Internet contra a Nestlé pela exploração predatória do parque das águas de São Lourenço. Mais lenha para por na fogueira.

Atendente também é gente

Algumas idéias de marketing conseguem fugir totalmente do comum. Uma cadeia de fast food nos EUA bolou uma campanha muito legal: jogue uma mão de "papel, pedra e tesoura" com o caixa, e se você ganhar, tem um dólar de desconto.

O legal nem é o desconto. O legal é que você joga com o atendente, que geralmente é visto apenas como um robô, numa relação totalmente impessoal. De repente, um simples jogo torna a relação muito mais humana.

Levando a idéia adiante, o que podemos fazer, nas nossas empresas, para quebrar o gelo da mesma forma? Não é fácil imaginar algo tão eficaz como o jogo acima. Uma brincadeira mal pensada pode até depor contra a imagem da empresa. Mas vale a pena pensar nisso.

2 de julho de 2007

A bolha e a utopia tecnológica

Poucas coisas caracterizam tão bem a vaidade e a ambição humana como a utopia tecnológica, o desejo de resolver todos os problemas através da tecnologia. A (melhor) ficção científica está cheia de exemplos de idéias tecnológicas maravilhosas (como a produção de tecidos humanos em laboratório) que dão errado (vide "Blade Runner").

A ficção científica clássica é idealista. Porém, vivemos agora em tempos egoístas. A revista Forbes elaborou uma lista de quinze coisas que você gostaria que alguém inventasse. Entre útil, o curioso e o ridículo, alguém sugeriu... uma bolha para que a pessoa possa viver dentro, sem contato com o ruído e a sujeira do ambiente externo. Não consigo imaginar idéia mais ridícula, mas o pior é perceber que tem gente influente (foi entrevistado pela Forbes!) que realmente quer viver desse jeito. Assim a humanidade vai longe...