17 de setembro de 2004

O dilema da criatividade

A criatividade é um dos dilemas do mundo moderno. Durante muito tempo, acreditou-se que o potencial criativo fosse algo de origem extraordinária, um presente dado a poucas pessoas como um dom especial. Com o desenvolvimento da psicologia, a criatividade passou a ser um dos temas de estudo, em especial nas décadas de 1950 e 1960. Um dos problemas inerentes ao estudo do pensamento criativo é a dificuldade em quantificá-lo. A história do estudo formal da criatividade mostra como esta dificuldade, aliada a uma mentalidade de conformismo social tipicamente americana, levou a uma tentativa de redução da criatividade a uma simples habilidade que pode ser aprendida ou desenvolvida, de forma independente de outros traços da personalidade.

Infelizmente, a questão não é tão simples como pode parecer. É claro que o processo criativo não é um presente dos deuses reservado para poucos eleitos; ele pode ser fomentado e desenvolvido em um ambiente adequado. Porém, separar a criatividade do processo mental como um atributo estritamente independente é impossível. O pensamento criativo pressupõe um grau de liberdade que não pode conviver adequadamente com regras sociais ou comportamentais rígidas. Assim -- mesmo que o processo criativo possa ser domado e exercido dentro de um ambiente restrito -- ele implica em liberdade e capacidade de explorar limites.

A criatividade torna-se então um dilema, à medida em que é necessária para a evolução tecnológica e social da humanidade, mas traz consigo os riscos de um processo que não se enquadra totalmente dentro das regras sociais. Em um ambiente empresarial, o exercício da criatividade é sempre arriscado. Trata-se de forçar limites, pensar "fora da caixa", trazendo para o ambiente interno elementos novos que podem causar tensão por ameaçar a própria estabilidade do meio. Fechar os olhos para estes elementos não resolve o problema; apenas torna o sistema como um todo mais resistente à mudança.

A criatividade também lida com os limites entre o desconhecido e o conhecido. O que não existe -- o desconhecido -- tem um valor intrínseco alto. Aquilo que já é conhecido perde este valor. A revelação do ato criativo contém então a sua própria derrota; através dela, o que possuía valor deixa de possui-lo, por passar a fazer parte de uma experiência comum. Este fator colabora para que o ato criativo muitas vezes seja desprezado, em termos profissionais, como a simples geração de palpites ou idéias mal acabadas. No entanto, sem o insight precioso da criatividade, as coisas ficariam como eram antes. Para que algo aconteça, é preciso que o processo de criação venha primeiro. Como encorajar processo criativo, se o seu próprio resultado é tantas vezes desvalorizado? A resposta a este dilema é a chave para libertar o potencial da criatividade no mundo dos negócios.

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