29 de novembro de 2006

Ciência divertida

Uma das minhas melhores memórias de infância é dos kits de ciências que eu ganhei, lá por volta dos meus dez, onze anos de idade. Pois é - eu já era 'nerd' naquela época! Havia um kit de uma enciclopédia, não me lembro o nome agora, que vinha com experiências interessantíssimas de química, magnetismo, eletricidade (com bobinas, motores, etc.), eletricidade estática...

Passado um bom tempo, há poucos anos atrás - em 2002 - visitei um museu de ciências em St Louis, EUA. Achei fantástico como eles conseguiam demonstrar conceitos científicos avançados com kits siomples, fáceis de entender, e muito acessíveis. Cheguei a pensar na idéia de investir um pouco do meu tempo para montar alguns kits e fazer demonstrações em escolas públicas para crianças carentes, de forma a despertar nelas a curiosidade pelo mundo natural. Mas infelizmente, esta é uma idéia que ainda está só na intenção.

Hoje existem muitas formas interessantes de se fazer ciência divertida, mas mesmo assim muito educativa. Alguns sites se especializam em divulgar brinquedos científicos. Há empresas que se especializam em vender produtos antes impensáveis, como supermagnetos, do tipo que deixa até os MythBusters de queixo caído. Esses ímãs de metais raros, como Neodímio, possuem força suficiente para mover objetos a distâncias maiores do que se imagina, e precisam ser manipulados com cuidado para evitar acidentes graves. Por outro lado, eles são capazes de efeitos magnéticos inacreditáveis.

Já existe no mercado brasileiro um brinquedo com esferas magnéticas para construir figuras. Imagino que não sejam tão fortes como os citados acima, mas devem ser bastante divertidos. Depois de ver isso tudo, fiquei mais animado a comprar algumas esferinhas para ver como funciona!

22 de novembro de 2006

Tecnologia para todos

O que falta para que a tecnologia da informação possa estar ao alcance de todos? Segundo Jakob Nielsen, um dos "papas" da usabilidade, existem três níveis de isolamento digital a serem vencidos:

  1. Isolamento econômico
  2. Dificuldade de uso
  3. Falta de envolvimento pessoal
O isolamento econômico é, de todos esses fatores, aquele onde foi feito maior progresso. A lei de Moore permitiu a disseminação de computadores em todo o mundo. Projetos como o One Laptop Per Child almejam colocar tecnologia nas mãos da população de baixa renda de países em desenvolvimento. Ainda há muito a ser feito, mas as perspectivas são boas.

A dificuldade de uso já é um ponto mais complicado. Sabe-se hoje como desenhar produtos fáceis de serem usados; porém, porque isso não acontece? Apesar de todos os avanços da tecnologia, ainda parece haver um prazer perverso em ignorar a demanda dos usuários comuns. O Joel Spolsky escreveu recentemente sobre isso, criticando as nove opções para desligar o Windows Vista, enquanto um produto bem sucedido como o iPod não tem botão liga-desliga (graças a uma decisão pessoal do Steven Jobs!). Há também sites na Web mal organizados, programas que parecem ter sido feitos para torturar seus usuários, menus de auto-atendimento telefônico que deixam os usuários desesperados para conversar com um ser humano.

Uma das explicações é a dificuldade que os engenheiros tem em entender a diferença entre o que as pessoas acham que querem e o que elas realmente querem. Em resumo, se você perguntar para qualquer pessoa, ela listará inúmeros recursos que deseja em um produto. Ao juntar tudo que todo mundo quer, o resultado fica inevitavelmente confuso, e não agrada a ninguém. Encontrar o meio-termo é um processo complexo - há quem diga provocativamente que não se deve ouvir o cliente - mas é isso que diferencia o design de alguns poucos produtos entre tantos disponíveis no mercado.

O último nível de isolamento é a falta de envolvimento pessoal. Esse é, segundo o Nielsen, o mais complicado de todos. Em um mundo de possibilidades infinitas, apenas uma pequena fração das pessoas colabora efetivamente. A falta de envolvimento é um fenômeno difícil de reverter, porque está enraizado no comportamento individual. Se uma fatia maior da humanidade se envolvesse, o potencial multiplicador da Internet poderia se realizar em sua plenitude. É um problema que com certeza ainda atravessará gerações e só será superado através da educação através de novos paradigmas.

21 de novembro de 2006

A verdadeira história do iPod

Li hoje um artigo na Wired sobre a história do iPod. Entre os pontos altos do artigo, dois chamam a atenção: o relato da experiência do autor do artigo ao apresentar o primeiro iPod diretamente para Bill Gates, em um jantar ocorrido no mesmo dia em que o iPod era lançado; e a visão de Steven Jobs, que acredita que o iPod resume com perfeição a meta da Apple como empresa, pois funde "tecnologia, facilidade de uso, e um design impressionante". Vale a leitura!

Um teclado para lá de interativo

Há poucos dias, estava discutindo com amigos as possibilidades das futuras interfaces de usuário para PCs. Aqui no blog, apontei duas dessas possibilidades, que são os monitores de grandes dimensões e as ferramentas digitais wireless para interagir com o display, atuando como legítimas ferramentas manuais, só que sobre um meio digital.

Nessa conversa, surgiu também uma idéia incipiente, mas que me pareceu pouco praticável na hora: ter um display LCD horizontal à disposição, que poderia funcionar como um "tablet" interativo ou como teclado sensível ao toque. O problema desse design é a falta de "feedback mecânico", ou seja, daquela sensação de que algo se moveu com a pressão dos dedos. Mesmo em um mundo digital, ainda temos que respeitar essa necessidade humana pela realidade física, que faz prever que elementos como o teclado ainda vão estar presentes por um bom tempo nos nossos PCs.

Assim, pensando nessas possibilidades, fiquei surpreendido ao ver o projeto do
teclado Optimus. É um produto absolutamente surpreendente - um teclado que possui pequenos "displays" LCDs debaixo de cada tecla, de forma que os símbolos que são "escritos" em cada tecla podem ser reconfigurados dinamicamente. A idéia é excepcional, pois permite avançar e muito no grau de interatividade que o teclado oferece como interface de usuário. Por exemplo, programas que oferecem um grande número de "atalhos" podem tratar o teclado como uma "toolbar" dinâmica; ao pressionar a tecla CTRL, por exemplo, as teclas podem exibir os ícones das ferramentas ativas para cada tecla.

Hoje em dia, esse tipo de tecnologia ainda é muito cara - o teclado está saindo por cerca de US$ 400. Mas não há nada que impeça a popularização dessa idéia, a um custo muito mais acessível a curto prazo. E mais: independente da viabilidade dessa idéia em particular, é fabuloso pensar até que ponto a inventividade ainda pode nos surpreender, trazendo desenhos absolutamente inovadores mesmo para algo tão antigo como o tradicional teclado.

13 de novembro de 2006

A próxima revolução da informática

Desde a introdução do PC - há vinte e cinco anos - a indústria da informática serviu como alavanca para um desenvolvimento sem precedentes na história. Além da indústria em si, o computador serve como ferramenta para alavancar outros setores do conhecimento humano, gerando cada vez mais desenvolvimento. Hoje em dia, há quem acredite que a próxima revolução da humanidade virá por meio de uma nova tecnologia. Há vários candidatos, como a engenharia genética, a biotecnologia, os nanorobôs, a ciência dos materiais exóticos, entre tantos outros. Porém, acredito que a maior alavanca ainda continuará com o setor de informática. Uma segunda revolução, de maior impacto do que a primeira, se aproxima.

Nos próximos 25 anos, veremos ganhos de produtividade ainda maiores. Ainda não arranhamos o potencial multiplicador da Internet. A interação hoje ainda se restringe às conversas, via email, chat, MSN, ou VoIP. O grande ganho ocorrerá com o amadurecimento de um modelo viável para aplicações interativas multiusuário na rede. Some-se a isso uma nova revolução na maneira de construir computadores, e mais ainda, de interagir com eles. Os primeiros passos nesse sentido ainda são rudimentares: chips "multicore", aplicações Web, e por aí vai. Porém, assim como o PC original e seus predecessores pavimentaram o caminho para a popularização da informática, essas novas idéias estão hoje funcionando como terreno fértil para novas experiências de potencial imenso.

Alguns avanços são fáceis de prever. A tecnologia sem fios deve continuar crescendo, viabilizando a famosa "computação ubíqua", onde dispositivos informatizados farão parte de nosso dia a dia, trocando informações sem contato físico. A fronteira entre documentos e aplicações se tornará cada vez mais tênue. Serão todos objetos, vivendo na rede, permitindo a interação paralela de várias pessoas, oferecendo um campo sem precedentes para o trabalho colaborativo.

A riqueza da experiência física, que é inerente ao ser humano, será enriquecida nesse novo mundo virtual. Novas interfaces visuais, aproveitando monitores de grandes dimensões (30 polegadas ou mais) irão transformar o acanhado "desktop" em uma legítima mesa de trabalho. Ferramentas manuais irão interagir nesse espaço de trabalho; assim, ao invés de clicar em um pincel para fazer um traço, vamos pegar um pincel 'wireless' e passar sobre a tela, obtendo o efeito desejado com todas as sutilezas do movimento. No outro extremo, dispositivos móveis irão nos acompanhar, ajudando a organizar a informação que nos cerca.

Para que tudo isso se torne realidade, muita coisa ainda precisa acontecer. Algumas ainda estão nos laboratórios das grandes corporações mundiais. Outras idéias estão na cabeça de criadores solitários, esperando o momento certo para serem implementadas. Outras tantas ainda estão por nascer, aguardando as condições ideais para seu surgimento. O importante, nesse momento, é ter a percepção do futuro brilhante que nos aguarda, e trabalhar para participar da sua construção. É essa percepção que me anima; e é o sonho de participar desse futuro que me leva adiante.

4 de novembro de 2006

A falácia do anonimato e o futuro da identidade digital

Uma das grandes novidades da Internet, como meio de interação social, foi a possibilidade de anonimato, tida pelos defensores da privacidade individual como uma grande conquista. Porém, esse mesmo anonimato serve para acobertar atividades ilícitas, ilegais, ou simplesmente inconvenientes. Discute-se hoje como o mau comportamento online está inviabilizando o anonimato. Na Coréia, o problema tem atingido grandes proporções, e alguns ISPs pressionam o governo para proibir os 'brigões' de acessar a Internet. Aqui no Brasil, a discussão está centrada no Orkut, com inúmeros processos na justiça correndo para retirar perfis difamatórios, comunidades difamatórias, ou comunidades com conteúdo ilegal.

Brigas à parte, a situação revela o quanto ainda falta caminhar para implantar um conceito razoável de identidade digital na Internet. Os críticos mais ferrenhos da identidade digital a vêem como um passo inevitável em direção do Big Brother. Outros apontam a necessidade de meios confiáveis de certificar a identidade do indivíduo, não apenas para transações comerciais, mas como um meio de afirmação da sua individualidade. O certo é que a identidade digital, quando mal utilizada, tem um potencial de destruir o próprio conceito de privacidade.

Entendo que a privacidade é um bem a ser preservado; porém, em nome da segurança, o valor do anonimato precisa ser corretamente avaliado. Na sociedade "real", é possível agir anonimamente; porém isso é complicado, ou no mínimo inconveniente, o que oferece um certo nível de equilíbrio entre a liberdade individual e a segurança coletiva. Já na sociedade virtual, é muito fácil agir anonimamente. Esta facilidade encoraja a formação de grupos com idéias destrutivas, e dificulta seu rastreamento, levando a problemas como os que estamos vivendo agora.

A chave do processo está em encontrar mecanismos que desencorajem o anonimato. No entanto, soluções excessivamente rigorosas podem ter o efeito contrário, tornando a vida online inconveniente (pela quantidade de controles envolvidos), ou até mesmo perigosa, pelo risco da monitoração constante. Por isso, o equilíbrio é fundamental. Não acredito que a humanidade vá se permitir chegar ao nível do Big Brother, com a perda completa da liberdade individual; acredito sim que chegaremos a um ponto onde poderemos controlar o grau de exposição pessoal, em troca de maior ou menor conveniência, atingindo assim um equilíbrio entre a privacidade individual e a segurança coletiva.