20 de novembro de 2007

20 anos passam rápido

Fui me apresentar em um curso ontem, e o instrutor perguntou: "quantos anos de TI você tem?". Respondi, "23". É muito tempo.

Tenho ainda perdidos em casa coisas antigas. Até uns quatro anos atrás eu tenho certeza que tinha um HD de 5 MB em algum lugar. Isso mesmo - 5 MB. Pesava uns dois quilos. Juro. Tem floppies de 3"1/2. Os mais antigos, de 5"1/4 sumiram faz tempo. Costumo guardar os HDs de PCs antigos - cada vez que troco, guardo, pra recuperar alguma coisa se precisar (e isso já me salvou algumas vezes). Perdidos por aqui tem arquivos zipados dos anos 90 e começo dos anos 2000. Código fonte em Pascal, arquivos .DOC em Word para DOS. Se bobear tem arquivos Wordstar em algum lugar.

Antigamente, a forma de armazenar tudo era assim. Disquetes, HDs, backups em fita. Com o tempo, o backup se perde - jogado fora, ou não funciona mais. Ou seja, muita história se perde. Mas hoje em dia tudo mudou...

Aos poucos, vou migrando meus bookmarks para o Delicious. Mantenho alguns blogs, onde textos que iriam parar em um floppy poeirento 20 anos atrás continuarão vivos... daqui a 20 anos.

Já imaginou pesquisar sobre você mesmo na Internet daqui a vinte anos, e achar um texto que você escreveu hoje?

Já imaginou pesquisar seus bookmarks e achar um link para uma página que você viu em 2001?

À medida que migramos nossa memória coletiva para a Internet, nossa percepção do tempo muda. É como um elefante que nunca esquece. Temos tempo para nos acostumar devagar, mas mesmo assim não deixa de ser estranho. É como ver o Leo Jaime cantando agora, 20 e tantos anos depois. Gordo, irreconhecível, mas é o Leo Jaime. Como é que a gente mesmo vai se ver daqui a 20 anos, quando tiver muito mais do que as fotos empoeiradas para lembrar como éramos?

Comentários são bem vindos, até 2027.

2 de novembro de 2007

Jornalismo 2.0

Desde que a Web começou a ganhar importância, se fala que os jornais tradicionais vão acabar. Agora, na era do YouTube, não é só o jornalismo impresso que está ameaçado. Estamos vivendo o fim de uma era. O jornalismo 2.0 está nascendo agora, debaixo do nariz da Globo e de outros gigantes da mídia.

O jornalismo tradicional é um exemplo clássico da cultura da escassez. Tanto o espaço do jornal como o tempo do leitor são limitados. Por isso, o critério de seleção de material é a fundação de um jornal. A solução tradicional é um modelo hierárquico rígido. O editor-chefe dá o tom do jornal; monta a pauta, define quais notícias são dignas de serem publicadas, onde serão publicadas, quanto espaço (ou tempo) cada uma terá, etc. O modelo também é marcado pelo corporativismo: a premissa de que somente um jornalista formado possa escrever ou selecionar notícias não se sustenta, bastando ver quantos dos melhores jornalistas do mundo jamais estudaram jornalismo, sendo formados em outras áreas.

A Web atual é a antítese da escassez. Qualquer um pode ser editor, selecionando e filtrando material encontrado através um site de busca ou seguindo as dicas repassadas pelos amigos. Qualquer um pode ser um jornalista. Nesta semana Twitter foi o primeiro veículo a ter informações quentes sobre o terremoto em San Jose. O Twitter é um site social que mescla Web e SMS, sendo uma plataforma excepcional para propagação instantânea de informações - toda ela gerada pelos próprios usuários.

A reação da mídia tradicional varia. Acho que alguns estão no caminho certo. A Reuters investiu no BlogBurst, que distribui conteúdo de blogs para a mídia tradicional. A mesma empresa também aceita submissão de fotos jornalísticas tiradas por amadores diretamente no site. O diferencial dessa abordagem é simples - o reconhecimento de que o conteúdo gerado pelos próprios leitores tem valor e supera em qualidade e novidade o conteúdo gerado dentro do modelo tradicional.

Já outras empresas parecem não ter entendido ainda o que está ocorrendo. A reação da imprensa belga ao Google News, por exemplo - cortando a própria fonte de acessos em vez de se aliar. Outros ainda tentam proteger seu conteúdo assinando acordos exclusivos com sites populares como o YouTube ou o Facebook. Grandes grupos, como a Fox e mesmo a rede Globo, investem pesadamente - mas a tentativa tem mais um "cheiro" de tentar manter o modelo atual do que de se adaptar aos novos tempos. Pode até parecer que funciona agora... mas a longo prazo, não vai funcionar.

P.S. O recente escândalo do leite mostra a força que a mídia tradicional tem no Brasil. Ou seja, ainda é cedo. Mas como toda revolução, muitas vezes a mudança só é perrcebida quando é tarde demais.