4 de novembro de 2005

O problema é de comunicação

Minhas últimas conversas de boteco só confirmaram para mim o que já vinha suspeitando. O grande problema do mundo corporativo é a comunicação. Comunicação humana, digo. As pessoas não sabe explicar o que querem, não conseguem comunicar o que pensam. Não sabem organizar suas idéias, não sabem escrever. Não sabem ler. Não sabem ouvir.

Acredito que a raiz de tudo está na preguiça de ler e escutar. As pessoas aprendem pelo exemplo. Sem leitura não se desenvolve a capacidade de escrever. Sem escrever e sem escutar as idéias dos outros, ninguém aprende a organizar as próprias idéias. Por isso, os negócios sofrem. São atividades mal feitas, projetos inacabados, e pessoas que simplesmente não se envolvem com a solução dos problemas porque, entre outras coisas, isso exige capacidade de comunicação. Capacidade de conversar com o cliente; capacidade de conversar com o chefe para convencê-lo de que algo deve (ou não deve) ser feito; capacidade de vender o peixe.

Tem quem acredite que o mundo é dos espertos, ou dos vendedores. De certa forma é, porque justamente estas pessoas tem o que falta a outras. Não adianta ser competente, se você não se faz entender. Pior ainda, não adianta ser competente se você não procura entender o que te pedem. Por isso, quem reclama de não ter chances poderia olhar para si mesmo, e perguntar: será que eu sei me comunicar? será que estou ouvindo e falando na medida certa? A resposta talvez desagrade.

Errata: falando em dificuldade de comunicação, a primeira edição deste artigo tinha alguns erros simples, incluindo uma frase duplicada, pelos quais peço desculpas...

10 de outubro de 2005

Quadrinhos

Durante um bom tempo, fui fã de quadrinhos. Quando era criança, ler gibis era coisa normal, comum: Turma da Mônica, Pato Donald (as histórias da série do Superpato eram o máximo!), e outros. Depois, me interessei por histórias diferenciadas, como a série Asterix, com um humor um pouco mais sofisticado. Mas houve uma fase que eu achei particularmente interessante, que me leva ao blog de hoje.

No fim dos anos 80, começaram a surgir no Brasil as chamadas "Graphic Novels". Eram um produto diferenciado para a época. Ao invés da impressão em papel de terceira categoria, papéis especiais, e tintas fortes. Foi quando mestres como Frank Miller, Alan Moore, e Bill Sienkiewiks ficaram conhecidos. Na época, fiquei fascinado pelo traço dos artistas, e pela forma contavam histórias: com profundidade, com complexidade, com uma perspectiva humana. Ao longo dos anos 90, a influência desses artistas se expandiu para o cinema. Nos anos 60, os filmes e seriados de super herói ganharam uma aura kitsch que quase custou a eles todo seu espaço de mercado, graças a produções como o famoso Batman da TV. Mas nesta nova fase, os filmes de super heróis ganharam uma nova vida, e não foi só por causa dos efeitos gráficos melhores, mas principalmente pelas histórias mais sólidas. Se hoje temos Homem Aranha (1 e 2), Quarteto Fantástico e X-Men, é em grande parte graças a estes artistas que revitalizaram os quadrinhos. Mesmo hoje -- Sin City (do mesmo Frank Miller que reinventou o Batman) é um dos grandes sucessos de crítica este ano, e V de Vingança (V for Vendetta no original em inglês) é aguardado com grande expectativa para 2006.

Semana passada, depois de muitos anos sem ler quadrinhos, sem nenhum motivo em particular, fiquei folheando as revistas em uma banca. Várias das histórias que eu mais gostei foram reeditadas - caso de Watchmen, que ficou marcada por uma frase forte ("quem vigia os vigilantes?"), e que incidentalmente é a referência fundamental para o ótimo "Os Incríveis", da Pixa; e o Cavaleiro das Trevas, que é uma grande leitura até nos dias de hoje. Na banca, senti um pouco o excesso de oferta, principalmente pela grande quantidade de mangás de qualidade duvidosa, assim como as histórias bem desenhadas, mas sem o mesmo conteúdo forte da fase áurea das Graphic Novels. Suspeito que naquela época de mercado embrionário, somente as melhoras obras mereciam uma aposta na publicação. Hoje o mercado amadureceu, e esse tipo de HQ já tem público cativo no Brasil. Mas que fica mais difícil garimpar as gemas legítimas em uma banca, isso fica.

5 de outubro de 2005

Um ano ou cinco

"Some people seem to think that we got where we are overnight. Not so. I've been doing Linux for 15 years, and hey, if it takes another 5 or 10 for the desktop to be a big part of the market, that's what it will take." Business Week: Torvalds' Baby Comes of Age
Já ouvi dizer, não me lembro exatamente de quem, que nós temos uma tendência a superestimar o que podemos fazer em um ano, enquanto subestimamos o que podemos fazer em cinco. O resultado é ruim: ansiedade em tentar fazer o impossível, frustração por não atingir as metas de curto prazo. Deveríamos viver mais lentamente, entendendo que o tempo capitaliza as mudanças de uma forma progressiva; assim chegaríamos mais longe.
A frase do Linus Torvalds sumariza bem este pensamento. Todo ano é tido como 'o ano do Linux'. No fim do ano, analistas comentam que apesar das melhorias, o Linux ainda não emplacou. Falta pensar no longo prazo. Se olharmos as estatísticas, a cada ano a fatia de mercado do Linux aumenta. Pra quê ficar ansioso, e querer dominar o mercado em um ano? Se é para demorar cinco, ou dez, que seja assim. Pena que seja tão difícil entender as coisas dessa forma.

2 de outubro de 2005

Cinema, plebiscito, e a falácia do consenso

Li hoje que a indústria de Holywood finalmente começou a admitir que a queda de faturamento que ocorreu este ano não se deve à alta do petróleo ou o terrorismo internacional, mas sim porque os filmes eram ruins mesmo. E eram, isso é fato. O artigo também comenta que o conservadorismo dos estúdios faz com que filmes independentes, que assumem maiores riscos, pareçam bons em comparação.

Esta história me leva a pensar em outra relacionada: até que ponto dá para acreditar na opinião das pessoas? Em outras palavras, será que as pessoas sabem realmente o que querem? Eu sinceramente duvido. Em um teste de audiência, imagino que muita gente possa considerar o final de um filme ruim, pedindo uma mudança -- um final feliz, por exemplo. Mas este mesmo final feliz pode tirar toda a graça da história; ironicamente, na intenção de agradar, o filme pode acabar se tornando um fracasso.

Acho que muitas vezes, nós precisamos ser provocados. Precisamos da polêmica, precisamos discordar. Ao tentar agradar a todos, a indústria do cinema consegue apenas se tornar asséptica e sem sabor. Mas será que ela é a única a fazer isso? Suspeito que não. A busca do consenso é uma das grandes falácias da democracia (segundo Churchill, o pior sistema de governo que existe excetuando todos os outros). Não há muita opção, é verdade, mas o risco existe.

Todo este argumento nos leva ao plebiscito sobre a proibição de venda de armas. Não sei se este plebiscito é uma boa idéia. Ao forçar uma decisão, cria-se uma polarização total, cujo resultado pode ser imprevisível. Se a possibilidade da venda de armas for mantida, podemos começar a viver uma nova era, incluindo aí a possibilidade de marketing de armas, e até de uma 'corrida às armas' caseiras. A . Já o voto no 'sim' também oculta riscos semelhantes; que o desarmamento seja acelerado em um país que hoje ainda não oferece as condições de segurança para que ele seja levado às últimas consequências. O pior é que, qualquer que seja o resultado, vai ficar a dúvida: será que as pessoas sabem realmente o que querem?

22 de setembro de 2005

A verdadeira revolução de VoIP está por vir

Em tecnologia, o tempo é sempre difícil de avaliar. É fácil ficar entusiasmado com uma nova idéia e imaginar que ela vai tomar o mundo em um ano. No mundo real, o ciclo de adoção é muito mais lento. Muitas boas idéias são dadas como mortas, pois demoram um pouco para amadurecer, e reaparecem anos depois.

Este é o caso da tecnologia de VoIP. Talvez poucos se lembrem (ou saibam) mas lá pelo idos de 1996, um programinha chamado "CUSeeMe" era muito popular entre os pioneiros da Net. Era um programa de videoconferência baseada em IP, que rodava em hardware modesto para os padrões atuais. COmo quase ninguém tinha câmara, era comum usar o CUSeeMe para conversar com outras pessoas, só com áudio, sem vídeo. Na i2 -- empresa da qual eu era sócio na época -- chegamos a brincar um pouco com ele. O Wallace, que era da nossa área comercial, uma vez teve um encontro ocasional na Internet com ninguém menos que o Galvão Bueno. Ele estava no Projac (estúdio da Globo), e havia sido apresentado naquele dia à então "novidade tecnológica", que já chamava atenção de muita gente.

Muitos viram logo de cara o potencial da tecnologia, pensando que em pouco tempo -- um ano, dois anos? -- ela estaria disponível para todo mundo. Obviamente, as coisas não aconteceram desta forma. Havia muito que ser feito para chegar no ponto de amadurecimento da tecnologia. Inovações no hardware, software de melhor qualidade, acesso Internet banda larga, e por aí vai. Passados nove anos, a tecnologia de VoIP parece pronta para tomar o mercado de assalto. O uso de VoIP para economizar em interurbanos está crescendo rapidamente. Mas ainda falta uma coisa, que está para chegar rapidamente, e que vai tornar realidade o sonho da telefonia IP chegando até o ponto final, que é o aparelho do usuário.

Mobilidade. Hoje, o celular já toma o espaço da telefonia fixa. O custo de um ponto de telefone fixo é baixo; o custo do telefone móvel nem tanto. Para uma empresa, não parece muito atrativo trocar um telefone fixo convencional por outro telefone fixo baseado em IP. A economia de VoIP pode ser obtida de forma mais econômica com os gateways instalados nos troncos. Mas com mobilidade, a coisa muda de figura. E é a aí que a tecnologia de WiFi entra para arrebentar.

Hoje, um telefone IP sem fio (usando WiFi) custa em torno de US$ 200,00. Quando este preço romper a barreira mágica dos US$ 100,00, o mercado vai explodir. Um telefone IP sem fio será uma verdadeira revolução na vida das empresas, liberando seus funcionários dos limites de sua mesa para circular dentro da empresa -- e porque não, para qualquer outro lugar que tenha cobertura WiFi. É claro que ainda há desafios técnicos para superar. Mas neste momento, eles parecem pequenos, porque os outros dois fatores críticos para adoção de uma tecnologia (econômico e cultural) já estarão resolvidos automaticamente. É então que a verdadeira revolução de VoIP vai acontecer.

21 de setembro de 2005

O tamanho ideal

Você acha que uma operadora de telecom deva ter conteúdo próprio? Tenho minhas dúvidas. Por trás desta pergunta, há uma série de premissas comuns no mundo corporativo:

  • A empresa precisa ter controle do cliente;
  • A empresa deve explorar todas oportunidades de negócio com o cliente;
  • A empresa deve se antecipar às necessidades do cliente...


Isoladamente, não há nada demais com estas premissas; mas quando aplicadas em conjunto, elas levam ao gigantismo, e consequentemente, a um nível de ineficiência que consome toda economia de escala que uma grande empresa poderia obter. A empresa perde o foco, e deixa de pensar em atender o seu cliente; a manutenção do status quo se torna o seu objetivo máximo.

Porque é tão difícil para uma empresa se manter no tamanho ideal? Uma das razões é a necessidade de manter o crescimento, especialmente para empresas de capital aberto. Outro motivo é o fato de ser muito difícil tomar decisões difíceis, especialmente de enxugamento. No caso das operadoras, o pânico se explica pelo temor de que o seu modelo de negócio não parece ser sustentável a longo prazo. Na telefonia fixa, a concorrência de tecnologias como WiFi e VoIP é um problema real. No mercado de telefonia móvel, há uma queda forte na receita por assinante; o retorno está vindo com o negócio de conteúdo: jogos, torpedos e principalmente a venda de ringtones.

Estes resultados sugerem que o negócio de conteúdo é essencial para a sobrevivência das empresas de telefonia. Mas eu discordo. Penso que o mercado seria muito melhor servido se as empresas de telecom focassem seus esforços em serem boas naquilo que fazem bem: fornecer a infraestrutura de comunicação. Se as margens não são aquilo que costumavam ser, ou se a empresa não é mais tão rentável, a resposta correta não é expandir procurando novos negócios -- é cortar custos e administrar melhor, trabalhando com maior eficiência. A mesma tecnologia que ameaça as empresas está aí para serví-la, abrindo novas frentes de negócio. Basta ter a coragem necessária para enfrentar os fatos, e se adequar à nova realidade que já se impõe.

20 de setembro de 2005

Confrontando os fatos

Sempre tive uma grande admiração por pessoas que demonstram liderança sem excessos ou autoritarismo. Um dos meu exemplos prediletos é o explorador irlandês Ernest Shackleton, que ficou famoso pela incrível história do Endurance -- o navio que, sob seu comando, ficou preso no gelo da Antártida. Shackleton conseguiu um feito impressionante: mesmo perdendo o navio, manteve a tripulação coesa e conseguiu retornar após 22 meses para a Inglaterra sem perder nenhum homem.

Outro exemplo fascinante é James "Jim" Stockdale, comandante da marinha americana que ficou preso por oito anos durante o auge da Guerra do Vietnã. A sua história é repleta de casos de uma resistência estóica, e de uma liderança capaz de manter seus homens coesos no meio de uma situação absolutamente desesperadora. Submetido à tortura frequente, ele não apenas se manteve absolutamente calado, mas conseguiu através de seu exemplo manter outros prisioneiros unidos.

Recentemente, uma história de Jim Stockdale foi publicada em um livro sobre empreendimentos, com o nome paradoxo de Stockdale. Trata-se do seguinte: para sobreviver a condições extremas, é preciso não ser otimista. Segundo Stockdale, não se pode permitir que o otimismo cego nos deprive da capacidade de entender quando uma situação é absolutamente desesperadora. Ele conta que, entre os seus colegas de campo de concentração, os otimistas foram os que morreram; quando esperavam o socorro para o Natal, depois para a Páscoa, depois para o Natal de novo... até que se cansaram, desencantando de viver.

O pensamento de Stockdale é realmente paradoxal. Lendo seus argumentos, nas suas próprias palavras, permite entender melhor o que ele quis dizer. Não é coincidência que ele tenha tido uma carreira acadêmica brilhante, e que depois de aposentado da marinha tenha se dedicado ao estudo de filosofia. Sua própria lição ilustra bem o conceito de estoicismo, tanto quanto outros grandes líderes, como Ghandi ou Martin Luther King. Líderes que souberam se impor pelo seu exemplo, sem autoritarismo, e sem sequer uma autoridade delegada.

18 de setembro de 2005

Simplicidade matemática

Um comentário interessante sobre a simplicidade na matemática, ou trigonometria sem senos ou cosenos: "Unfortunately, mathematics lectures at Cambridge left me with the permanent belief that mathematicians' ideas of what is simple and what is complex merely illustrate the fact that physics and engineering use math, but they use a useful subset (which changes with time) and do not necessarily buy into ideas which mathematicians regard as self-evident.".

Também tive esta experiência com alguma frequência, especialmente nos poucos meses em que estudei na Faculdade de Física da UFMG. E é verdade; os físicos mais graduados da escola demonstravam uma impaciência enorme com qualquer um que não se mostrasse capaz de entender imediatamente a simplicidade evidente de alguns conceitos. Por que será? Simples consequência de estarem tão imersos neste conhecimento a ponto de terem-no como óbvio, ou apenas a mostra de que a mente das pessoas é estruturada de forma totalmente diferente? Acredito na segunda explicação; físicos teóricos e matemáticos tem uma visão especial, uma compreensão da matemática pura que a maioria das pessoas não compartilha. Infelizmente, estas mesmas pessoas tem suas limitações, e são frequentemente incapazes de se comunicar com clareza com outras pessoas. Resultado? Professores impacientes, alunos relapsos. Perdemos todos.

30 de julho de 2005

Com quantos planetas se faz um sistema solar

Se você é do tempo que a resposta eram "nove", fique alerta! Durante a última semana, mais dois objetos foram descobertos nos limites do sistema solar: o 2003EL61 e o 2003UB313. Obviamente, estes nomes são provisórios, e seguem um critério científico complicado. Aliás, dar nomes para objetos astronômicos é complicado. E curiosamente, com estas descobertas, também ficou mais difícil definir o que é um planeta. Estas descobertas só estão sendo possíveis graças aos avanços recentes da tecnologia de câmaras digitas (CCDs), que são altamente sensíveis. De acordo com os astrônomos, mais descobertas como estas podem ser esperadas. Finalmente, estamos conhecendo nossa vizinhança estelar um pouco melhor...

Quanto vale um cliente VoIP?

De acordo com Robert Cringely, cerca de US$ 150, que é mais ou menos quanto cada cliente vale de acordo com a oferta de aquisição do Skype pela News Corporation, de Rupert Murdoch. Cringely fez esta conta em um comentário sobre a possível aquisição da Skype por Murdoch. Em resumo, a oferta de compra traduz alguns fatores importantes:

  • Valida o mercado de VoIP -- se Murdoch quer comprar, deve valer alguma coisa;
  • Dá uma baliza de preço. No setor de telecomunicações, números como a receita média por assinante e o preço por assinante são amplamente conhecidos e discutidos; o número mágico de 150 dólares por assinante serve como marco para o mercado de VoIP, e estabelece um parâmetro para avaliação de empresas concorrentes como a Vonage e outras.
No fim das contas, o negócio não saiu; mas o fato é que a Skype está à venda. A quem interessa comprar a Skype? Provedores de banda larga são os candidatos naturais, mas Cringely aponta para um outro comprador possível: operadoras de celular. Faz sentido? Talvez; uma operadora VoIP como o Skype não canibaliza receita de uma operadora de celulares, mas a complementa. Implícita na discussão, está a premissa que que banda larga e mobilidade não combinam. Eu pessoalmente concordo; mesmo que os fatores técnicos que limitam a banda em aplicações wireless sejam superados, acredito que outros fatores deverão colaborar para que a rede fixa continue sendo a forma primária de acesso banda larga.

Independente de qualquer outro fator tecnológico, o fato é que a tecnologia de VoIP está amadurecendo a passos largos. Em um determinado momento, haverá massa crítica suficiente para fazer com o que o modelo de negócios de telefonia existente desmorone para dar lugar a outro. Até lá, muita coisa ainda vai acontecer. Historicamente, estas transições são sempre dolorosas, e passam por momentos de incerteza política. Porém, não há como defender os incumbentes da obsolescência econômica; nestes casos, a mão invisível do mercado age de forma implacável.

25 de julho de 2005

Idéias sobre liderança

Como a maioria das vezes, este artigo tem uma história longa... meio por curiosidade, visitei o Everything2.com. O site é um experimento anárquico. Não é uma enciclopédia, parece mais com um mural público, é uma forma de captura o pensamento coletivo em assuntos abrangentes, quase aleatórios. Uma boa dica para quem tem curiosidade e de preferência, algum tempo disponível.

Li uma página (Current Leadership Theory@Everything2.com) com comentários sobre a teoria de liderança. A página lembra um resumo de trabalho de escola, o que não é um demérito -- afinal, já é um ponto de partida para uma pesquisa mais aprofundada. Entre os pontos citados, achei interessante a classificação de Hersey & Blanchar, chamada de modelo de liderança situacional. Segundo eles, existem quatro estilos de liderança, que podem ser traduzidos grosseiramente assim: diretivo, orientativo, suportivo e delegativo.

O conceito de liderança me interessa bastante, entre outras coisas porque é uma área na qual eu tive uma grande dificuldade em entender uma coisa básica: para liderar não é preciso competência técnica. É preciso competência gerencial. Há lideres que possuem as duas coisas. Há outros, bem, que não possuem nem uma nem outra -- estes não costumam durar muito. Mas uma coisa, em princípio, não tem nada a ver com a outra...

Voltando à liderança situacional, para cada tipo de liderança, há um equivalente no "liderado":

  1. baixa competência, baixo comprometimento;
  2. alguma competência, baixo comprometimento;
  3. alta competência, comprometimento variável;
  4. alta competência, alto compromentimento.
Relacionando os números entre o líder e o liderado, temos:
  1. Para uma pessoa de baixa competência e baixo comprometimento, a liderança deve ser direcionadora, ou "directing". Você deve descrever exatamente o que a pessoa deve fazer.
  2. Para uma pessoa de alguma competência e baixo comprometimento, a liderança deve ser exercida de forma orientadora (coaching, ou 'treinar' a pessoa).
  3. Para uma pessoa de alta competência mas com comprometimento variável, a liderança deve ser suportadora (supporting).
  4. Para uma pessoa de alta competência e alto comprometimento... a liderança deve ser delegadora (delegating).
O que acontece quando o casamento entre os perfis não ocorre? Simples: pessoas desmotivadas, trabalhos mal feitos. Porém, não se pode esperar que um funcionário se adapte ao líder. Pelo contrário: para obter o melhor da equipe, é preciso que líder se adapte aos liderados. Pode parecer um contrasenso, mas é o mínimo que se espera de um líder que queira obter o melhor rendimento de seus subordinados.

Como desenvolver a percepção correta? Em princípio, o líder deve desenvolver habilidades que hoje já são tidas como básicas: capacidade de ouvir, capacidade de perceber, e principalmente, capacidade de se comunicar no nível correto. Um funcionário novato, com grande potencial, seria rapidamente queimado por um líder que quisesse imediatamente delegar atividades, sem que ele tenha o preparo adequado. Da mesma forma, um analista experiente se sente frustrado ao receber instruções passo a passo sobre como realizar uma atividade. Com observação e bom senso, o líder pode perceber dentro de sua equipe a forma certa de tratar com cada um. Mas o mais importante mesmo é perceber que este tipo de ação transcende as relações formais de liderança, e deve permear outras relações - com nossos amigos, nossas famílias, e mesmo naqueles encontros casuais onde nos relacionamos com outros, deixando uma impressão indelével sobre quem somos.

Mudanças no blog

Já repararam quantas páginas na Web jamais são atualizadas? E a quantidade de blogs abandonados? Pois é, manter um blog em dia não é fácil. Requer muito mais que entusiasmo, requer disciplina. Um dos maiores inimigos é o perfeccionismo -- a vontade de escrever um artigo definitivo sobre o assunto por dia. Por isso, inúmeros rascunhos e artigos mal acabados ficam guardados indefinidamente na fila, até perderem o sentido totalmente...

Por isso tudo, o blog está mudando (de novo). Já prometi isso antes, mas agora espero cumprir e voltar às origens. "Rascunhos Rotos" são notas e fragmentos de qualidade variável, muitas vezes duvidosa. Pelo menos assim, o blog fica vivo...

p.s. Se você recebeu uma mensagem com este texto, peço desculpas... minha lista de envio contém somente o endereço de amigos, ou de pessoas que eu consultei antes de incluir na lista. Se você se sente incomodado, é só falar, e eu retiro da lista, ok? Envie a mensagem para carribeiro@gmail.com.

17 de julho de 2005

Nomes de domínio e números de telefone

Via Phil Windley, uma observação interessante: Phil em 2010, seu nome de domínio pessoal vai ser mais importante do que seu número de telefone. Talvez isso já seja verdade para algumas pessoas (como o próprio Windley -- é só ver o domínio que ele usa). A observação lembra outra, sobre a qual eu tenho conversado com alguma frequência: qual o papel das operadoras em um mundo de telefonia IP?

Hoje, as operadoras de telefonia oferecem uma solução altamente verticalizada: elas oferecem a infraestrutura completa, e também oferecem os meios para identificar os usuários. Uma das consequências da tecnologia de telefonia IP é a quebra deste modelo, pois a infraestrutura muda completamente. A evolução ainda não está clara -- pode passar por um modelo tradicional (baseado em NGN), ou pode passar por um modelo "peer-to-peer" como o utilizado pelo Skype. Mas mesmo em uma rede P2P, é necessário algum meio de identificar o usuário, seja pelo seu número, seja pelo nome de usuário (como no Skype), seja pelo seu email (como é a proposta da Cisco). Onde fica este diretório de usuários, e qual a sua estrutura? Seja qual for a solução, este é um problema que é melhor administrado por uma entidade central -- que pode ser uma operadora de telefonia, ou um "domain registry". Talvez possa soar como um papel muito reduzido para quem hoje domina totalmente a estrutura do serviço, mas ainda assim, é um papel estratégico, e por isso valioso.

25 de junho de 2005

Admirando a lua cheia

Ontem eu estava viajando de volta para casa, durante a noite, com um céu limpo e uma lua cheia maravilhosa. Passando sobre uma represa que há no caminho, uma cena perfeita: a lua cheia, baixa no céu, refletindo sobre o espelho d'água. Uma cena maravilhosa.

Ao chegar em casa, coincidentemente, vi um comentário sobre a ilusão de ótica que faz a lua parecer maior quando está no horizonte. Ao que consta, a lua está em um ponto particularmente favorável de sua órbita para a visualização de um efeito que ainda não tem uma explicação universalmente aceita. Há quem ache que o motivo é o efeito Ponzo, uma ilusão que afeta a nossa percepção de objetos que passam pelo céu. Vários objetos, como nuvens, pássaros ou aviões, se movimentam a uma altura constante do solo, e diminuem sensivelmente de tamanho à medida que se distanciam de nós. Devido à distância que a Lua se encontra, não há variação perceptível de tamanho; o cérebro então "compensa" a diferença e aumenta o seu tamanho aparente quando ela se encontra "longe", ou seja, no horizonte. Outra explicação se baseia em um ajuste automático de distância feito pelo cérebro para possibilitar a mudança rápida de foco. Este efeito, conhecido pelo nome de macropsia oculomotor, tem sua explicação baseada na evolução humana e na própria geometria do nosso sistema ocular.

Qualquer que seja a explicação, a lua cheia, próxima ao horizonte, tem uma mística admirável. Como a sua visão sobre o espelho d'água ilustra maravilhosamente...

1 de junho de 2005

Sozinho em uma multidão

Hoje estive em São Paulo a trabalho. Parece estranho para mim, mas fiquei três anos sem ir a SP para nada. A última vez (que eu me lembre) foi para a Telexpo de 2002. Hoje, voltei ao roteiro familiar, indo ao escritório da Cisco, próximo à Marginal Pinheiros. Curiosamente, achei que as coisas estavam mais ou menos do mesmo jeito, apesar do crescimento contínuo da cidade. Mas o que me assustou mesmo foi o Aeroporto de Congonhas.

A obra de reforma do Aeroporto de Congonhas é, sem dúvida, um desafio monumental: atualizar um aeroporto encravado dentro de uma cidade com o metro quadrado mais caro do Brasil não é fácil. Para quem ficou três anos sem ir lá, as dimensões da obra assustam, por que fica uma impressão curiosa: como é que o aeroporto dava conta do volume de vôos antes, com muito menos estrutura? A resposta é simples, ele não dava conta, e a reforma era inevitável. Porém, eu acredito que com a reforma, o local parece ter perdido alguma coisa.

Se você perguntar para qualquer 'frequent flyer' o que ele achava do Aeroporto de Congonhas três anos atrás, imagino que a opinião seja unânime: uma loucura, subdimensionado, engarrafado, com salas de espera apertadas, etc. O que se vê agora é um aeroporto mais moderno, com grandes salas de espera, e túneis mais modernos de acesso às aeronaves. O curioso é que o local continua uma loucura, mas pior; o local se tornou mais impessoal, mais asséptico, quase surreal.

As antigas salas de espera de Congonhas eram apertadas, e tinham pouco espaço para sentar. Porém, por serem várias salas divididas, ficava uma sensação um pouco mais humana. Hoje, em uma sala imensa, misturam-se vôos, companhias e destinos em uma massa única de gente, que atordoa.

Por quê estou escrevendo sobre tudo isso? Acho que esta sensação revela um pouco mais sobre o desconforto humano diante de obras faraônicas, de locais que excedem a nossa capacidade de se sentir à vontade. Talvez como um sonho de projeto esta sensação não seja perceptível, mas na prática, acho que esta sensação é mais comum do que os arquitetos e engenheiros gostariam de admitir. Alguns lugares são frios e desumanos, e quanto maiores, piores ficam. Outros são naturalmente aconchegantes e confortáveis, e talvez neste caso o tamanho não faça a menor diferença. Não sei. Mas ficou para mim a sensação de que o Aeroporto de Congonhas se tornou um lugar absolutamente frio, um lugar para se ficar o menor tempo possível, e onde o tempo de espera parece eterno.

31 de maio de 2005

A grande revolução do desktop está por vir

Qual foi a última grande revolução que atingiu os 'desktops' em escritórios, desde pequenas a grandes empresas? Nos últimos anos, a dupla Windows + Office atingiu um status de onipresença praticamente absoluta. No entanto, se observarmos bem, desde o Office 97 (lançado há oito anos atrás!), muito pouca coisa mudou. As principais diferenças são cosméticas, sendo que a funcionalidade principal de cada parte do pacote continua sendo basicamente a mesma.

Há bons motivos para acreditar que grandes mudanças estão por vir. Nos dois últimos anos, novas aplicações Web começaram a aparecer. De um ano para cá, o movimento se acelerou. O Google Labs produziu diversas novidades, cada uma revolucionária a seu modo: GMail, Google Suggest, Google Maps, entre tantos outros. Cada vez mais, fica evidente que é possível oferecer uma interface rica para aplicações através de um browser.

O fato de uma aplicação ser baseada em um browser tem uma implicação importantíssima: ela se torna naturalmente integrada em rede, o que torna possível um grau de interação e mobilidade que não é possível com arquiteturas de desktop tradicionais. A Microsoft percebeu isso tarde demais; em um primeiro momento, ela tentou evitar o inevitável, suspendendo o desenvolvimento da sua plataforma Web (é por isso que o IE6 parou no tempo). Recentemente, ela retomou o caminho, quando ferramentas como o Firefox começaram a recuperar espaço no mercado.

No entanto, as aplicações Web ainda tem um ponto fraco: elas são incomparavelmente menos poderosas e convenientes do que as ferramentas de produtividade tradicionais para determinadas atividades. Por exemplo, há pacotes de CRM totalmente baseados em Web, como o SugarCRM e o vtiger; no entanto, funções como editar uma carta ou uma planilha de preços ainda dependem da integração com as ferramentas do Office.

A abordagem de código livre para este problema é bastante pragmática: usando componentes abertos, é possível compor uma solução mista, integrando as funções de workflow. No entanto, o resultado ainda depende de muita integração manual.

A seu turno, a Microsoft está mirando nesta como a grande oportunidade para diferenciar as versões futuras do Office e do Longhorn. O Office 12 está sendo desenhado para incorporar funcionalidades avançadas de controle de documentação dentro de empresas. Isto vai muito além do workflow tradicional, e envolve uma integração com aspectos de segurança e arquivamento que estão se tornando uma necessidade legal em vários países. A possibilidade de rastrear um documento, verificar mudanças, ou limitar o que é possível dentro de um documento aberto são funcionalidades totalmente novas, e que abrem um horizonte muito amplo para o uso empresarial.

Na minha opinião, acho que as mudanças que vamos ver nos próximos dois anos serão muito mais do que incrementais; serão mudanças revolucionárias, de impacto tão grande como a introdução do Windows ou da Internet dentro das empresas. Serão novas oportunidades para os players estabelecidos e também para os entrantes no mercado. Será, eventualmente, a prova de fogo entre os proponentes de soluções abertas -- que naturalmente oferecem mais flexibilidade em um ambiente de rede -- e os proponentes de soluções tradicionais, principalmente a Microsoft, que podem oferecer um pacote mais restrito, porém melhor integrado.

Finalmente, uma observação importante: o salto de produtividade e qualidade que estas novas ferramentas darão a pequenas e médias empresas terá, sem dúvida, um impacto considerável sobre o mercado como um todo. As grandes empresas já dispõe de ferramentas automatizadas de workflow, que de uma forma ou de outra lhes dão uma vantagem competitiva sobre seus concorrentes. No entanto, a disponibilidade destes recursos em plataformas mais populares -- seja via Windows, seja via plataformas abertas -- vai tornar possível a adoção destas mesmas técnicas por empresas menores. O resultado deste impacto é difícil de prever, mas eu acredito que será efetivamente revolucionário, ainda que em um prazo um pouco mais amplo.

Defendendo idéias ruins com argumentos inteligentes

Esta é uma situação comum em qualquer ambiente: pessoas reconhecidas pela sua inteligência defendem, muitas vezes com insistência, posições absolutamente esdrúxulas. Em muitos casos, a defesa da idéia se torna um fim em si mesmo. Recebi hoje um artigo interessante sobre o tema: por quê pessoas inteligentes defendem idéias ruins. A explicação rápida diz que isso ocorre simplesmente porque elas acham muitas vezes mais importante ganhar o debate do que qualquer outra coisa. Obviamente, as coisas não são tão simples; diversos fatores interferem, e podem tornar o processo extremamente complexo e difícil de lidar.

A chave do processo é o uso da lógica como instrumento de poder; uma pessoa inteligente muitas vezes usa seus recursos de argumentação para vencer uma discussão. Neste processo, a validade das idéias em jogo deixa de ser importante; o que interessa é ganhar a discussão, e assim, provar quem está certo.

É inevitável a comparação entre sabedoria e inteligência. A civilização ocidental foca na inteligência -- a capacidade de pensar -- enquanto a oriental foca na sabedoria, que pode ser entendida como saber sobre o quê pensar. A 'inteligência' sem direção é inútil, pois a argumentação se torna um fim em si mesma. Também é importante saber adotar a perspectiva correta; novamente, a sabedoria é o guia, evitando o foco em critérios que na prática são irrelevantes, ou até mesmo incorretos.

É difícil para mim não me colocar nos exemplos dados; muitas vezes, me peguei defendendo posições ruins apenas pelo orgulho de defendê-las (algumas vezes com sucesso, outras não). Interromper o processo não é fácil, porque pressupõe o desenvolvimento de uma capacidade de auto crítica que muitas vezes não é encorajada, particularmente em crianças que se destacam. Em retrospecto, isso é muito fácil de entender, mesmo que no dia a dia seja difícil de evitar.

20 de maio de 2005

A tecnologia sempre vence

Pouco depois de postar minha nota anterior (sobre desobediência civil e propriedade intelectual) vi este artigo, que me lembrou outro ponto importante: a tecnologia sempre vence. A frase pode parecer tecnicista em excesso, ou um pouco ingênuo em termos políticos. Mas na minha opinião, há trÊs coisas totalmente impossíveis de serem paradas: o crescimento do conhecimento humano, as leis da economia, e o desejo da independência humana. A 'lei de Groove' -- se é que o nome vai pegar, como o ex-CEO da Intel quer - é pouco mais do que a realização do fato de que a tecnologia apenas segue as leis do conhecimento crescente e as leis da economia, sendo portanto impossível de deter.

O que isso tem a ver com P2P? Simples. A tecnologia está transformando o modelo tradicional. O conceito de propriedade intelectual, por si só, tem validade, mas os mecanismos específicos que foram construídos para garanti-la não fazem sentido com a tecnologia atual. Assim, somando a lei de Groove ao desejo inato de independência de todo ser humano, temos uma realidade inescapável: a estrutura atual de controle de propriedade intelectual é insustentável. Ou em outras palavras, um novo modelo não é questão de 'se', mas de 'quando'.

Desobediência civil & propriedade intelectual

O que é desobediência civil? Em resumo, e correndo o risco de hipersimplificar o assunto, é o ato de desobedecer conscientemente a lei, com o intuito de agir de acordo com a própria consciência. O termo foi cunhado pelo filósofo americano Henry Thoreau, em um livro com o mesmo nome. De apenas 13 páginas, é um manifesto importante, ainda que pouco conhecido (e ainda menos compreendido).

O conceito de desobediência civil foi a base para alguns dos eventos definitivos do século XX, como a luta de Gandhi pela libertação da Índia e a luta, anos mais tarde, de Martin Luther King Jr. pelos direitos humanos nos EUA. Mas o que um conceito filosófico tão nobre veio fazer aqui, neste espaço de rascunhos rotos?

Tudo começou com uma conversa, semanas atrás, com um grande amigo meu, cuja identidade não vem ao caso agora. Falávamos sobre direitos autorais e pirataria, redes P2P, etc. Ele me disse que já havia brincado com software P2P antes, mas que não utilizava mais, por um motivo simples: é contra a lei, portanto é errado, e ninguém deve violar a lei, certo?

Do ponto de vista estritamente ético, o argumento parece imbatível. Afinal de contas, se há uma lei, quem viola a lei está indo contra a própria sociedade; e portanto, o seu comportamento merece ser repreendido, por menos gente que seja prejudicada por ele. Assim, o fato de que o 'roubo' de conteúdo digital não implica na indisponibilidade dos bens para seu legítimo dono não é uma atenuante razoável; roubo é roubo, simplesmente.

Alguma coisa me incomodou no argumento. Acho, sinceramente, que há situações em que o uso de material obtido em redes P2P é perfeitamente aceitável. Curiosamente países inteiros foram construídos sob as bases do oportunismo da tão falada 'economia de mercado', com pouco ou nenhum respeito pela propriedade intelectual de outros (adivinhe qual o país). Hoje, a China segue um caminho similar. Porém, se aplicarmos o argumento ético, vemos que ele falha neste caso. Por isso, fiquei um tempo sem conseguir articular uma defesa daquilo que no fundo, para mim, parecia plenamente defensável.

Com o passar dos dias, percebi que eu estava analisando o problema sob o aspecto errado. Violar uma lei é um ato eticamente condenável. Mas e se a lei não for justa, ou melhor, se ela não refletir corretamente os desejos da maioria? Esse é outro caminho. Neste sentido, a desobediência civil surge como um conceito essencial. Mas é importante diferenciar a 'desobediência civil' da traquinagem pura e simples. Trata-se não de uma atitude oportunista, ou interesseira, de quem deseja se apropriar de material alheio. Trata-se de uma postura ética, consciente, e disposta a assumir as consequências, daqueles que não concordam com as regras estabelecidas, por entender que elas não representam o melhor interesse da sociedade. Grandes transformações sociais por vezes acontecem assim -- através do exemplo, e não sem sofrimento. No caso, trata-se de marcar uma posição: o fluxo conhecimento deveria ser regulamentado para o benefício de todos, e não apenas em nome do poder econômico estabelecido. E acima de tudo, o direito das pessoas, como consumidoras de informação, deve ser respeitado. É preciso restaurar o equilíbrio, permitindo às pessoas o acesso e o uso da informação, em condições não restritivas.

Este artigo foi inspirado por uma matéria que li hoje: Lecturer censored in Spanish University (UPV) for defending P2P networks. Não tenho como julgar o mérito neste caso, ainda mais depois de ouvir apenas um lado da questão. Mas nitidamente, o chamado da 'desobediência civil' parece ser o único instrumento que pode ser utilizado neste caso. Infelizmente, ainda nos falta (coletivamente) a coragem necessária para executá-la
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15 de maio de 2005

Compartilhamento de acesso banda larga

Estou experimentando um pouco com o compartilhamento de acesso banda larga em condomínios. Não, meu objetivo não é piratear sinal alheio, mas simplesmente tentar obter uma solução tecnicamente viável, que possa ser oferecida como um serviço competitivo. O problema é o seguinte: dentro de um condomínio, o compartilhamento simples em uma rede LAN implica em problemas sérios de segurança e privacidade. Para implementar um acesso com uma proteção mínima, é preciso segmentar a rede em nível 3, o que encarece a solução.

Já pensei em algumas alternativas para tratar o problema, todas elas inviáveis economicamente. Usar um switch de camada 3 exige um investimento de alguns milhares de reais -- isso, fora o fato de que o switch L3 não é capaz de fechar a conexão PPPoE que é entregue pelo provedor. Um computador antigo, com algumas interfaces de rede, pode ser usado para grupos de três ou quatro pessoas, mas não possui uma escalabilidade boa. Também vi um equipamento interessante, da SonicWall -- um misto de switch e firewall. Novamente, o custo é proibitivo, mas pelo menos todos os recursos necessários estão disponíveis.

Por enquanto, o que eu posso fazer é testar algumas soluções com um servidor Linux e placas de rede separadas. A solução funciona, mas a administração exige cuidados, e a escalabilidade não é boa o suficiente. Mas acho que é uma tentativa válida para aprender a dominar os problemas típicos deste ambiente.

14 de maio de 2005

Cidadania e indignação

Várias vezes, pensei em criar um blog com o título "Indignação". Seria uma forma de extravasar meu sentimento quando vejo coisas que me reviram o estômago. Hoje, tive vontade de fazer isso de novo, e na falta de um lugar específico, fica este post aqui mesmo.

Li uma matéria sobre o recordista de velocidade pego pelos radares de SP. É inacreditável, mas o autor da façanha -- 189 km/h! ainda conta bravata. É um estudante, jovem, bem de vida, e provavelmente sem muito compromisso com a sociedade. Não sei que tipo de educação teve -- se por acaso sempre teve alguém para encobrir seus 'mal-feitos', ou se ele é assim porque é mesmo. Tanto faz. Será que dá para admitir que alguém continue pensando que pode fazer o que quer? E os riscos, para si e para os outros?

O Brasil foi formado com uma mentalidade colonialista. Em geral, achamos que é normal que os ricos possam fazer o que bem desejam; afinal, este é o desejo íntimo de todos os que advogam diariamente a Lei de Gérson. Acho que nosso país ainda não evoluiu o suficiente para acabar com esta mancha, mas sinceramente, espero que o nosso piloto das madrugadas seja devidamente ensinado que o respeito a sociedade deveria vir em primeiro lugar.

9 de maio de 2005

Um pouco de Linus, 'o chefe'

Há alguns meses atrás, a revista Business Week incluiu Linus Torvalds na sua lista dos dez melhores administradores do ano. O motivo da inclusão é simples. Apesar de não ser um 'manager' no sentido tradicional da palavra, Linus é sem dúvida um líder nato, com um instindo fascinante para tomar a decisão correta, mesmo que isto não pareça óbvio a princípio.

Recentemente, o mesmo Linus se envolveu em uma discussão feia com outros desenvolvedores notórios, particularmente com Andrew Tridgell, o principal responsável pelo Samba. Na verdade, foi apenas o desfecho de uma história de anos, desde que o Linus optou por usar uma ferramenta fechada -- o BitKeeper, um sistema distribuído de controle de código-fonte que é apontado pelo próprio Linus como uma das razões para o impressionante aumento de produtividade da equipe central do Linux nos últimos três anos. O BitKeeper, segundo o Linus, oferecia o que nenhum outro sistema aberto poderia oferecer na época: um ambiente altamente produtivo para um projeto do porte do kernel do Linux. Pragmático como sempre, em 2001 ele (Linus) tomou a decisão de adotar o BitKeeper. Foi uma decisão complicad, que nunca agradou totalmente a muita gente. Porém, como bom líder, ele se impôs naturalmente, e o que muitos temiam -- uma divisão, ou 'fork', do sistema -- não aconteceu.

No entanto, a bomba relógio estava lá. E foi o Andrew Tridgell que a detonou. A licença do BitKeeper para uso com o Linux permitia certos tipos de uso livre, mas a licença era leonina. Para complicar, os formatos internos do sistema eram fechados. Tridgell tem uma experiência fenomenal com engenharia reversa; afinal, é ele o principal responsável pelo mesmo processo no Samba. Usando seu arsenal de técnicas, ele iniciou um processo de análise do BitKeeper. O autor do BitKeeper, Larry McVoy, não gostou nem um pouco. Em poucas semanas, o problema se tornou inadministrável, até que o inevitável aconteceu. McVoy revogou a licença gratuita para o uso do BitKeeper em código aberto, e em consequência, o Linus Torvalds decidiu abandonar o BitKeeper completamente. No processo, o Linus ainda fez algo que muitos não entenderam: se irritou com o Andrew Tridgell, que do ponto de vista estritamente técnico, estava certo.

Acontece que o Linus não é só um programador. É um gerente, e dos melhores. Ele estava apenas sendo pragmático; devido a um disputa que talvez fosse evitável, na sua opinião, a equipe do kernel perdia a sua melhor ferramenta de trabalho. Porém, justo quando muitos julgaram que o Linus havia dado um passo em falso, ele retorna ao comando, com um trabalho brilhante. Em poucos dias de trabalho, ele analisou as opções de mercado, e continou insatisfeito com o que via. Assim, na falta de soluções, ele criou sua própria solução, com o brilhantismo de sempre. Simples e pragmático. Ao invés de reescrever o BitKeeper, ou de tentar melhorar outros sistemas que eram inerentemente diferentes, ele se ateve ao básico, e escreveu uma pequena quantidade de código. Um novo kernel, por assim dizer -- não para um sistema operacional, mas para um repositório distribuído de arquivos.

O novo sistema, chamado git, já está mostrando seu potencial. Mas o mais importante não é o aspecto técnico, mas o aspecto político. Mais uma Linus Torvalds deu a volta por cima, e mostrou a sua capacidade de se manter no posto de líder do desenvolvimento do Linux. Sua habilidade em identificar o problema e focalizar na solução continuam sendo únicas. Como um líder normal, ele pode cometer falhas, ou se irritar quando as coisas não andam a seu favor. Mas é sem dúvida um líder de fato, e um dos melhores que existem atualmente.

5 de maio de 2005

Uma Universidade Aberta de Código Livre

Já faz algum tempo que eu venho pensando em uma forma de potencializar o desenvolvimento local de software livre. Uma das coisas que eu considero negativas é o fato de não haver uma cultura de desenvolvimento; nesse ponto, não quero dizer apenas sobre o fato de contribuir ou não código para projetos interessantes, mas o fato de que a maior parte daqueles que poderiam fazê-lo não tem nenhuma cultura de desenvolvimento de software em equipe.

Desenvolver software dentro de uma empresa já é complicado. Desenvolver software aberto, muitas vezes no tempo livre, como um hobby, é ainda mais complicado. Boa parte do tempo é gasto não com a parte tido como mais charmosa, que é a codificação propriamente dita, mas sim com a parte tida como chata: interação com outros desenvolvedores, disputas técnicas (às vezes legítimas, às vezes não), interação com usuários, e por aí vai. O gerenciamento deste ambiente exige um conjunto de habilidades específico. O próprio sucesso do Linux está fundamentado na habilidade excepcional que o Linus Torvalds tem em gerenciar uma equipe notoriamente complicada.

Deste ponto, vem a idéia: que tal uma universidade de código livre? A universidade poderia oferecer um curso de engenharia de software, com foco não no trabalho isolado, mas na dinâmica do trabalho em equipe. Todas as atividades seriam voltadas para projetos abertos. Os trabalhos dos alunos, por definição, seriam publicados como código livre. Projetos reconhecidos poderiam ser apoiados, e os alunos encorajados a dar apoio em tarefas como documentação, teste, suporte via email, entre outras coisas. Seria um curso legítimo, altamente interessante, que iria formar profissionais com uma qualificação única no mercado.

Será que é sonhar demais?

De volta: Intel x AMD, Google x Microsoft

Os rascunhos rotos estão de volta! ou pelo menos, esta é a intenção. Fiquei sem atualizar este blog por um bom tempo, devido a algumas mudanças pessoais e profissionais importantes. Agora, estou com meu tempo um pouco mais estável, e espero poder manter o mesmo nível de atualização de outros tempos.

Pra começar, um pouco de comentários sobre novidades...

Comprei um PC há cerca de três meses. Escolhi um Sempron 2400, que tem um ótimo desempenho, e que está me satisfazendo plenamente. Aqui no meu (novo) trabalho, estamos comprando PCs também, e há uma definição preliminar pelo uso do Pentium IV. Eu me pergunto, o que é que faz com que muitas pessoas ainda tenham a percepção de que o 'Intel Inside' vale mais? Acho difícil de sustentar o argumento; afinal, a AMD é uma empresa de grande porte, com investimentos pesados em R&D. Por isso, fiquei ainda mais interessado ao ler uma análise técnica sobre os recentes chips de 'dual core'. Segundo o autor, a Intel está perdendo esta batalha.

Para quem não acompanha, esta é a nova moda para melhorar o desempenho e manter a lei de Moore viva. Colocando duas CPUs em um único chipset, pode ser obtido um desempenho superior ao de um sistema SMP tradicional, porque a arquitetura já está internamente otimizada para trabalhar desta forma. Imagina-se que no futuro a técnica de núcleos múltiplos venha a ser usada em uma escala cada vez mais ampla, até chegarmos a múltiplas CPUs multiprocessadas em um único chip... no desktop.

Outro tema que me interessa há muito tempo é a crescente batalha entre Google e Microsoft. Parece que o Google conseguiu uma façanha inédita: criou um novo campo de batalha onde os métodos tradicionais da Microsoft não se aplicam. A batalha deve estar sendo um exercício de impotência e humildade para a gigante de Seattle. Como combater alguém que em momento nenhum se coloca como concorrente, e mesmo assim, consegue agregar mais valor aos usuários através de ferramentas livres do que qualquer coisa que a Microsoft faz.

Na minha pouco informada opinião, a Microsoft prova um pouco do seu próprio remédio. Seu controle sobre o mercado é baseado em algumas premissas que não se sustentam em um mundo altamente conectado. Em um certo momento, ela poderia ter liderado a carga para um mundo mais aberto, através de extensões para o Internet Explorer e outras coisas do tipo. Mas ela achou que já tinha afastado o risco, e decidiu concentrar os esforços em um novo sistema fechado, o seu 'Longhorn', para manter o controle das coisas do jeito que elas eram antes.

Provavelmente, a Microsoft acordou tarde demais. O que interessa agora não é software puro, mas informação. O Google sabe lidar com a informação melhor do que ninguém. Resta saber qual será a estratégia da Microsoft. Não seria estranho vê-la entregando os anéis para não perder os dedos. Hoje, a empresa tem múltiplas divisões, e talvez seja melhor se consolar com um papel reduzido na sua tradicional área de domínio e continuar crescendo em faturando nas outras linhas de negócio onde a empresa já tem obtido bons resultados (particularmente jogos e conteúdo digital). Mas talvez ela queira levar a disputa às últimas consequências. Espero que nós, usuários, possamos contar com uma luta limpa, e com muita evolução tecnológica como consequência desta disputa. Por outro lado, espero que não se busque uma saída jurídica, como restrições ao que pode ser feito via Internet - já pensou se o Google acaba proibido de indexar conteúdo, por causa de alguma decisão relativa a direitos autorais, ou coisa que o valha?

12 de fevereiro de 2005

Dá para confiar em um firewall que remapeia portas?

Notei hoje um fenômeno interessante. Nos últimos dias eu fiz uma instalação de firewall para um cliente, e decidi avaliar como estavam as coisas. A partir de casa, rodei o nmap, e obtive os seguintes resultados:


Starting nmap 3.50 ( http://www.insecure.org/nmap/ ) at 2005-02-12 18:47 BRST
Host xxx.xxx.xxx.xxx appears to be up ... good.
Initiating Connect() Scan against xxx.xxx.xxx.xxx at 18:47
Adding open port 22/tcp
Adding open port 21/tcp
Adding open port 80/tcp
Adding open port 1002/tcp
Adding open port 389/tcp
Adding open port 1720/tcp
The Connect() Scan took 329 seconds to scan 1659 ports.
Interesting ports on xxx.xxx.xxx.xxx:
(The 1653 ports scanned but not shown below are in state: filtered)
PORT STATE SERVICE
21/tcp open ftp
22/tcp open ssh
80/tcp open http
389/tcp open ldap
1002/tcp open windows-icfw
1720/tcp open H.323/Q.931

Nmap run completed -- 1 IP address (1 host up) scanned in 331.759 seconds
A despeito do fato de que o serviço de ftp deveria ter sido bloqueado, e não foi - o que é uma falha da configuração atual - achei curioso o resultado para algumas portas. Não me lembrava, de forma alguma, de ter aberto os serviços adicionais (389, 1002 e 1720). Verifiquei e vi uma coisa interessante: se eu tentasse um telnet para qualquer uma dessas portas, a conexão era estabelecida; porém, a captura de pacotes via tcpdump no próprio cliente não revelava nenhum tráfego entrante.

Uma breve pesquisa na Internet resolveu o mistério. O pessoal do nmap já tinha notado algo estranho, e o próprio suporte da Microsoft respondeu. O firewall do Windows XP faz um proxy automático para as portas citadas. O curioso é que isso não está bem documentado, e nem aparece se você rodar um netstat no Windows para saber quais portas estão 'ouvindo' no momento. Se você pensar bem, a intenção é até razoável; é uma forma de suportar automaticamente chamadas com NetMeeting em um computador dentro da rede local. Mas fica a pergunta, dá para confiar em um firewall que remapeia tráfego sem avisar?

Agora, para quem está curioso. Minha rede doméstica deve ser um caso único: um computador com com Microsoft XP para compartilhar o acesso de um computador com Linux. O motivo é simples, a minha placa ISDN (uma Eicon Diva Pro) não é suportada por nenhum driver Linux, devido a questões de propriedade intelectual do driver. Enquanto não dá para trocar o acesso ISDN por outro, fica desse jeito.

4 de fevereiro de 2005

Os Jornalistas e Os Blogs - Alexandre Cruz Almeida

Como blogger amador e aspirante a escritor, ler o comentário sobre os jornalistas e os blogs, do Alexandre Cruz Almeida, foi uma experiência fascinante, iluminadora e... humilhante. Fascinante por ler um bom texto. Iluminadora, por perceber o quanto os blogs já fazem parte do cotidiano da grande imprensa. E humilhante por perceber a distância que separa este reles escritor de horas vagas dos profissionais da imprensa. Mesmo assim é leitura recomendada.

E fica o caso para pensar: quando é que a auto-fascinação da imprensa pelos blogs, já manifestada nos EUA, vai ser perceptível por aqui de forma mais evidente? Está claro que os grandes órgão de imprensa e os principais jornalistas já aderiram, mas a coisa ainda parece ter um gostinho de 'underground'. Talvez o fato de eu estar escrevendo estas linhas do interior do Brasil, em Uberlândia, longe das rodinhas intelectuais, esteja me passando uma impressão parcial. E depois... até que ponto esta auto-fascinação vai nos levar? O que mudará na imprensa? Boas perguntas, que ainda não tem resposta.

17 de janeiro de 2005

Celulares & tsunami

Durante o recente tsunami no Oceano Índico, vários turistas foram salvos através do rastreamento dos sinais de celulares. Pelo menos, é que foi noticiado em um jornal online do Sri Lanka, um dos países mais atingidos. Segundo o artigo, as operadoras de telefonia colaboraram, monitorando os sinais ativamente, e enviando mensagens com SMS para os celulares que eram registrados pelas suas estações. Ainda segundo o artigo, apesar da destruição causada pelo tsunami, as operadoras foram capazes de restaurar cerca de 90% do serviço rapidamente usando geradores móveis para alimentar as estações atingidas.

16 de janeiro de 2005

Curiosidades sobre o Google

O Google continua sendo para mim um paradigma do que uma aplicação Web precisa oferecer: simnples, rápido e eficiente. Poucas empresas levam tão a sério seu produto, ou se preocupam tanto com a forma comoas pessoas efetivamente o utilizam. Li hoje uma
entrevista com Marissa Mayer, gerente de produtos do Google, que confirma mais uma vez esta impressão, e ainda traz uma série de curiosidades sobre esta fantástica empresa.

8 de janeiro de 2005

Configurando X Windows+SSH em Windows - Parte I

Para aproveitar o tempo de um final de semana relativamente tranquilo, decidi tentar configurar um servidor X Windows para desenvolvimento remoto. Este artigo cobre a fase inicial de pesquisa; pretendo postar os resultados finais após um período de avaliação.

Motivação

Ultimamente, tenho dividido meu tempo entre meu escritório doméstico e as instalações de meus clientes. Tenho uma máquina de desenvolvimento alocada em um dos clientes, que é também o meu repositório SVN pessoal. O servidor roda Linux, e eu trabalho nele com o Eric3, que atende minhas necessidades como IDE (basicamente: gerenciamento de projetos, debugger e integração com o SVN). Infelizmente, o Eric3 não está disponível para Windows (o problema é a licença do Qt, que também afeta outros projetos); por isso, eu não posso utilizá-lo no escritório doméstico, que ainda usa Win98.

Ferramentas disponíveis

Fiz uma pesquisa preliminar sobre o assunto via Google. A princípio os resultados não são muito animadores; a maior parte dos resultados lista produtos comerciais, o que não é uma opção no momento. Porém, achei alguns links valiosos:
  • Free SSH and SCP for Windows 9x, NT, ME, 2000 and XP: Em meio a tantos links comerciais, esta página é um pequeno achado. Ela contém links interessantes e dicas de configuração para várias ferramentas úteis, baseadas em SSH e SCP.
  • CygWin XFree: por algum motivo, eu não tinha imaginado que o CygWin incluísse um servidor X; na verdade eu achei que ele só tivesse os utilitários de linha de comando. Esta impressão foi reforçada pelo fato deste não constar nas pesquisas do Google para o assunto; felizmente, a referência estava na página anterior (sobre SSH e SCP).

A idéia de instalar um ambiente completo CygWin é interessante mas um pouco assustadora; já instalei o CygWin antes, e achei a integração com o Windows muito pouco intuitiva. Mas no momento, esta parece ser a melhor opção, especialmente porque será certamente um pouco mais fácil encontrar documentação sobre o uso do XFree com SSH, usando ferramentas livres, do que com qualquer outro produto.

4 de janeiro de 2005

Viciados em planilhas

Recebi hoje um link, a essa altura já não me lembro bem de quem, tratando do vício em planilhas. É um fato conhecido que as planilhas eletrônicas são abusadas já faz muito tempo... e que ninguém faz nada quanto a isso, na maioria dos lugares.

O artigo levanta alguns pontos interessantes. Montar uma planilha é, a princípio, simples. Mas programar em uma planilha pode ser extremamente complicado. No entanto, usuários que se consideram leigos, e absolutamente incapazes de programar, decidem implementar rotinas de cálculo sofisticadas -- e o que é pior, críticas -- usando o Excel. O que os leva a crer que esta é a forma mais simples, eu não sei. Acredito que em parte, é devido ao fato de se poder prototipar uma planilha ao vivo; assim, a solução vai sendo desenhada aos poucos. Este processo lembra em muito o procedimento tradicional de construir alguma coisa artesanalmente. Por outro lado, esta interatividade é usualmente perdida no processo tradicional de programação.

Uma saída possível é educar estes usuários em metodologias de programação mais modernas, como o desenvolvimento dirigido por testes, ou Test Driven Development. Mas mesmo assim seria útil dispor de um ambiente onde isso pudesse ser feito de forma tão intuitiva e imediata como em uma planilha. Por enquanto, estamos fadados a continuar vendo planilhas que demora um dia para calcular... para dar o resultado errado.