29 de abril de 2008

Apple, Jobs e a computação à moda antiga

Semana passada, a Apple anunciou a compra de uma empresa de semicondutores. Dizem que é pelo "valor da propriedade intelectual". Mas eu aposto que a razão é outra.

A Apple vem colecionando notícias boas já faz tempo. A retomada começou com o iMac, mas disparou com o iPod, depois o iTunes, e atingiu níveis inimagináveis com o iPhone. O MacAir é outro sonho de consumo. A empresa acaba de bater o seu recorde de market share, teve números fantásticos no último quarter, e é a quarta marca mais valiosa do planeta segundo outra pesquisa.

O que a Apple tem de diferente de outras empresas? A resposta óbvia é Steve Jobs. Então, vamos perguntar de novo: o que o Steve Jobs tem de diferente de outros CEOs?

Ele é visionário e muito carismático. Também é controlador e perfeccionista, o que pode ser bom ou ruim. Mas existe uma outra diferença.

Steve Jobs é um sobrevivente da era primitiva da computação pessoal. Ele veio de um tempo em que hobbistas construiam micros em casa, comprando placas e projetos pelo correio. Eram pessoas que realmente se importavam com o que faziam. As implicações disso são evidentes na paixão com que a Apple projeta e anuncia seus produtos, como se cada detalhe importasse (e importa!).

Naquela época, a construção dos PCs dependia de conhecimento de eletrônica. O sócio fundador de Jobs na Apple, Steve Wozniak, era um engenheiro fenomenal, capaz de conceber soluções de baixo custo para funcionalidades avançadas para a época. E ao longo desse processo de "reconstrução" da Apple, desde o retorno do Jobs à empresa, o papel da eletrônica volta a ser fundamental. Praticamente todos os lançamentos da Apple integram soluções eletrônicas que se não totalmente exclusivas, são inovadoras e eficazes. O iMac, o iPod, o iPhone, e o MacAir são máquinas projetadas com circuitos exclusivos. São essas soluções que permitem à Apple ser melhor do que seus concorrentes.

Em uma era onde as grandes empresas compram seus chips dos mesmos fornecedores para ganhar escala e cortar custos, ninguém se diferencia. Todos os grandes fabricantes - HP, Dell, Lenovo, Acer - utilizam mais ou menos os mesmos componentes. No fim das contas são todos iguais. Menos a Apple. A verticalização estratégica e pontual, aplicada aos elementos críticos de um projeto, dá uma vantagem competitiva à Apple que nenhum outro fabricante tem. E isso é algo que somente alguém como o Steve Jobs - que viveu a era criativa da computação pessoal nos anos 70 - poderia resgatar.

26 de abril de 2008

YouNet (ou quem é você na rede)

Quem é você na rede?

Uma das grandes sacadas do YouTube foi o nome. YouTube - você na tela. Sua tela. Na Internet, você decide o que quer ver. E o que quer mostrar.

Existe uma sobreposição cada vez maior entre a personalidade real e a personalidade online. Ainda é curioso como as pessoas tratam a personalidade online como algo ocasional, descompromissado. Isso é compreensível, devido à imaturidade e aos poucos recursos oferecidos pela primeira geração de redes sociais. Mas o ambiente está se tornando mais rico. À medida que mais e mais pessoas migram partes importantes da sua vida para o ambiente online, o investimento vai aumentando, e torna-se cada vez mais difícil "suicidar" seu alter-ego virtual.

Deletar uma página no Orkut ainda é fácil. Afinal, em muitos casos nem é você que está lá. Mas serviços novos, como o Twitter e especialmente o FriendFeed, tornam isso cada vez mais difícil. Eles se integram na sua rotina, e passam a fazer parte do que você é.

Acredito que a maioria das pessoas ainda vai demorar para perceber o que está acontecendo. Uma boa reputação online demora para ser construída. O personagem virtual não pode ser um simples disfarce para projetar desejos secretos. Ele precisa ser você.