29 de outubro de 2004

Leve a Internet para a sua empresa

É muito comum, hoje em dia, ouvir empresários dizendo que querem "levar suas empresas para a Internet". Trata-se de um engano. Na visão destas pessoas, a Internet é algo parecido com as Páginas Amarelas: simplesmente um lugar para anunciar. Neste sentido, quanto maior e mais vistoso, melhor. Mas a Internet não funciona assim.

A Internet é acima de tudo comunicação. E, onde existe comunicação, surgem comunidades. Para se ter sucesso em um empreendimento na Internet, não basta colocá-lo em uma página, por mais bem desenhada que esta seja. É importante participar, levando a cultura da Internet para dentro da empresa.

Se você quer que a sua empresa seja bem sucedida na Internet, siga alguns conselhos básicos para começar:

  1. Encontre a comunidade. Os seus clientes usam a Internet para muitas coisas. Tente descobrir o que eles fazem: quais sites frequentam, e principalmente, como eles conversam. Há comunidades que se comunicam por e-mail, outras por meio de ferramentas de instant messaging, como o MSN e o ICQ. Identifique os assuntos e temas relevantes; se for necessário, trate cada segmento de forma particular
  2. Participe da comunidade. Organizar uma lista de contatos por email não basta. Acompanhe as discussões, responda a dúvidas, troque idéias. Acima de tudo: participe como pessoa, não como empresa.
  3. Siga as normas da comunidade. Mantenha uma postura ética em suas respostas. Deixe claro qual a sua relação profissional, enquanto membro da comunidade. Respeite seus concorrentes, e acima de tudo, respeite todo e qualquer outro membro da comunidade.
  4. Seja persistente. O seu compromisso com a comunidade não pode ser um engajamento para as horas vagas. É o seu próprio negócio. Lembre-se: nem todo mundo que entra em uma loja vai fazer uma compra, mas o bom lojista presta atenção em todos, e não deixa ninguém sem ser atendido.
As normas acima parecem simples, mas trazem grandes benefícios. Em primeiro lugar, você terá um entendimento melhor da sua comunidade, e das reais necessidades dos seus clientes. A sua presença contínua transmitirá uma sensação de confiança: seus clientes saberão que podem contar com você. E acima de tudo, mesmo que a lista tenha regras claras contra mensagens de cunho eminentemente comercial, você terá diversas oportunidades para deixar o seu recado de uma forma muito efetiva.

A questão do spam

Muitos empresários se queixam que seus emails são taxados de spam, apesar de alguns cuidados básicos, como enviar somente para pessoas cadastradas. Isso não deveria ser surpresa. As mensagens são padronizadas, e são enviadas em massa, usando servidores desconhecidos ou não devidamente cadastrados para envio de mensagens. Na raiz do problema do spam, está uma questão econômica: é muito fácil sucumbir à tentação de enviar milhares de emails em um só clique, a custo praticamente zero. No entanto, a efetividade desta abordagem é cada vez mais baixa, e compromete a imagem da empresa.

A abordagem das comunidades permite solucionar o impasse do spam. Ao invés de enviar milhares de mensagem de uma única vez, sem aviso prévio para falar de uma promoção ou de um evento, faça o contrário. Opere junto à comunidade de maneira contínua. Com raras exceções, mesmo as listas de email mais fechadas toleram anúncios que sejam interpretados como sendo de interesse público. Assim, se a sua empresa está participando de uma feira ou promovendo o evento, anuncie o fato na lista, de forma ética e personalizada. Dependendo da natureza da lista, sua oferta será amplamente discutida e debatida em público, gerando um efeito multiplicador positivo, sem comprometimento de imagem. O impacto de um anúncio feito desta forma é muito maior do que o envio de uma mensagem que, para os seus clientes, surge de forma inesperada e sem nenhum interesse particular.

Ser um bom membro da comunidade significa mais do que uma oportunidade de fazer novos negócios. Significa inserir sua empresa no universo dos seus clientes, e ter a oportunidade de um contato que de outra forma seria impossível. Significa, acima de tudo, levar a Internet para dentro de sua empresa, e não apenas colocar um anúncio de sua empresa na Internet.

27 de outubro de 2004

Google: como funciona, como utilizar, e como colocar seu site no topo

Estou organizando um curso sobre Google para o Instituto Online, uma empresa de Belo Horizonte especializada em cursos de tecnologia. O Instituto Online tem uma proposta de trabalho ambiciosa, que inclui desenvolvimento de cursos e materiais específicos para ensino à distância.

A idéia do curso de Google surgiu a partir da observação cotidiana. Praticamente todo mundo sabe o que é o Google, e utiliza seus recursos básicos com bastante frequência. Hoje, o Google é responsável por cerca de 75% de todos os acessos indiretos (via link) a sites na Internet. Porém, as pessoas não sabem como utilizar melhor os recursos do Google para resolver suas próprias pesquisas; e principalmente, os proprietários de sites muitas vezes não sabem como fazer para posicionar seus próprios sites de uma forma melhor no Google.

A importância de saber posicionar um site no Google é inegável. A pesquisa típica é simples: cerca de 1,5 palavra, em média. Quase ninguém usa a busca avançada -- em geral, digita-se uma ou duas palavras e ordena-se a busca. E finalmente, quando a lista de resultados é apresentada, o usuário em geral clica no primeiro ou no segundo link; outros links na primeira página ainda tem uma chance, mas dificilmente o usuário pede para ver a segunda página. Aparecer na primeira página é essencial para quem deseja ser encontrado.

Para o curso, optamos inicialmente por ensinar algumas coisas básicas: como funciona o Google, e como ele pode ser utilizado de forma eficiente. Sem este conhecimento básico, é difícil aplicar as regras básicas de otimização de indexação. Finalmente, trataremos das técnicas para melhorar o posicionamento, ou ranking, do site. É importante destacar que este trabalho será apresentado respeitando os limites éticos; ou seja, o objetivo é apenas ensinas as técnicas legítimas, e mostrar os problemas que os abusos do Google (como o Google Bombing) podem causar.

Como sempre, listamos alguns links interessantes sobre o assunto. Todos os links são em inglês. Para quem quiser mais detalhes (em português), que tal se inscrever no curso, assim que ele for anunciado?

  • Google Information for Webmasters: Esta é a referência básica, e fica no próprio Google. Estranhamente, poucas pessoas que procuram informações sobre o assunto sabem que esta página está lá, dentro do próprio Google. Leitura obrigatória.

  • Good Google Listing: Lista dicas para obter um melhor posicionamento na lista de resultados do Google.

  • Google's PageRank Explained (and how to make the most of it): Explica como o algoritmo de PageRank funciona, de acordo com a interpretação externa dos resultados. Não é uma análise oficial, mas apresenta alguns conceitos interessantes de boa aplicabilidade prática.

  • Score Higher in Google Search Engine (and why Google is saving the web): Artigo que, além de apresentar técnicas de otimização interessantes, conta um pouco da história do Google, e das razões pelas quais o conteúdo da página -- leia-se o texto, e os links nela colocados -- são mais importantes para a boa indexação do que qualquer outro elemento individual.

  • Google Dance - The Index Update of the Google Search Engine: Artigo que apresenta algumas informações interessantes sobre o funcionamento do Google. O nome Google Dance se referia uma propriedade interessante do antigo algoritmo de reindexação do Google, que rodava uma vez por mês e causava uma instabilidade nas buscas. O algoritmo atual é contínuo, e não apresenta as mesmas oscilações. Mesmo assim, o artigo ainda é relevante, e apresenta dados interessantes sobre a estrutura do Google.

  • A Survey of Google's PageRank: Série de artigos mais aprofundados sobre o algoritmo de PageRank.

13 de outubro de 2004

A Microsoft e a disputa pela busca na Internet

Ao que parece, o mercado de ferramentas de busca ainda nem começou a esquentar. A Microsoft está desesperadamente tentando recuperar o tempo perdido. Recentemente, veio à tona uma história interessante (e com um lado muito engraçado): a Microsoft tentou, em 1995, comprar a Excite, quando esta ainda era uma pioneira na busca Web, e havia acabado de fechar uma parceria importante com a Netscape. Alguns executivos da Microsoft declaravam que as pessoas não iriam precisar de busca na Internet; depois de encontrar o site desejado uma única vez, guardariam o endereço em seus 'bookmarks'. Hoje, é fácil rir em restrospecto, mas é bom lembrar que nove anos já se passaram, e muitas boas apostas da época deram em nada...

Agora, a briga movimenta muitos setores. O Steve Ballmer declarou recentemente que o Altavista teria sido a "busca 1.0"; o Yahoo, a "busca 2.0"; e o Google, a "busca 3.0". É uma admissão nada ruim para uma empresa que historicamente só acertou a mão depois da versão 3.0 (alguém sequer se lembra do Windows 2.0?). Além disso, a Microsoft agora luta para mostrar que a busca não é um negócio economicamente auto-sustentável. É impressionante como eles lutam pesado. Esta declaração, por exemplo, tem como alvo não a tecnologia, ou os usuários do Google; ela tem como alvo os investidores que apostam no crescimento do Google. Declarações como esta buscam minar a capacidade financeira do concorrente, esvaziando suas ações. É claro que eles não ficam sozinhos nessa -- alguns comentaristas recentemente vem indicando que a Microsoft perdeu o timing da busca, e isso tem impacto financeiro para eles também. Por isso, não há como isolar a guerra pelo mercado de busca da própria fase que a Microsoft vive.

Um grande império como a Microsoft só cresce e se sustenta com uma luta pesada e paranóica contra a concorrência. Mas a longo prazo, a própria teoria da evolução se encarrega de produzir concorrentes cada vez mais bem preparados. Uma coisa que a Microsoft não aprendeu ainda é que, em termos evolutivos, um organismo atinge a sua maioridade quando aprende a conviver bem com o ecosistema do qual faz parte. Um vírus extremamente agressivo mata seu hospedeiro, e isso não é bom para a sua sobrevivência. Com o tempo, o vírus se torna mais atenuado, até que se torne simplesmente um oportunista -- capaz de provocar a doença em casos específicos de baixa resistência, mas também capaz de sobreviver incubado anos a fio sem causar qualquer sintoma.

Para sobreviver, a Microsoft precisa que um mercado exista, e que hajam hospedeiros dispostos a tolerar sua presença, sustentando-a financeiramente. Sua postura paranóica ajudou-a a se posicionar firmemente como a líder. Por outro lado, seu isolamento crescente cria uma situação onde seus concorrentes se tornam cada vez mais preparados para atacá-la. Durante muitos anos, a Microsoft teve muito claro para si quem eram seus ' hospedeiros', e ajudou-os com boas ferramentas, documentação, e suporte. Agora, ela retorna para estes mesmos clientes com ameaças veladas de propriedade intelectual. Não é um parceiro que ninguém queira ter neste momento -- especialmente quando estão em jogo as próprias informações destes clientes, as mesmas que eles desejam ver pesquisadas e classificadas.