4 de novembro de 2006

A falácia do anonimato e o futuro da identidade digital

Uma das grandes novidades da Internet, como meio de interação social, foi a possibilidade de anonimato, tida pelos defensores da privacidade individual como uma grande conquista. Porém, esse mesmo anonimato serve para acobertar atividades ilícitas, ilegais, ou simplesmente inconvenientes. Discute-se hoje como o mau comportamento online está inviabilizando o anonimato. Na Coréia, o problema tem atingido grandes proporções, e alguns ISPs pressionam o governo para proibir os 'brigões' de acessar a Internet. Aqui no Brasil, a discussão está centrada no Orkut, com inúmeros processos na justiça correndo para retirar perfis difamatórios, comunidades difamatórias, ou comunidades com conteúdo ilegal.

Brigas à parte, a situação revela o quanto ainda falta caminhar para implantar um conceito razoável de identidade digital na Internet. Os críticos mais ferrenhos da identidade digital a vêem como um passo inevitável em direção do Big Brother. Outros apontam a necessidade de meios confiáveis de certificar a identidade do indivíduo, não apenas para transações comerciais, mas como um meio de afirmação da sua individualidade. O certo é que a identidade digital, quando mal utilizada, tem um potencial de destruir o próprio conceito de privacidade.

Entendo que a privacidade é um bem a ser preservado; porém, em nome da segurança, o valor do anonimato precisa ser corretamente avaliado. Na sociedade "real", é possível agir anonimamente; porém isso é complicado, ou no mínimo inconveniente, o que oferece um certo nível de equilíbrio entre a liberdade individual e a segurança coletiva. Já na sociedade virtual, é muito fácil agir anonimamente. Esta facilidade encoraja a formação de grupos com idéias destrutivas, e dificulta seu rastreamento, levando a problemas como os que estamos vivendo agora.

A chave do processo está em encontrar mecanismos que desencorajem o anonimato. No entanto, soluções excessivamente rigorosas podem ter o efeito contrário, tornando a vida online inconveniente (pela quantidade de controles envolvidos), ou até mesmo perigosa, pelo risco da monitoração constante. Por isso, o equilíbrio é fundamental. Não acredito que a humanidade vá se permitir chegar ao nível do Big Brother, com a perda completa da liberdade individual; acredito sim que chegaremos a um ponto onde poderemos controlar o grau de exposição pessoal, em troca de maior ou menor conveniência, atingindo assim um equilíbrio entre a privacidade individual e a segurança coletiva.

Um comentário:

Edu@rdo Rabboni disse...

Também acredito que será atingido um ponto de equilíbrio, que possibilite transações seguras e ao mesmo tempo preserve o mínimo de provacidade, que é bom e todo mundo gosta. Por outro lado, o que temos visto é que, face a alguns benefícios, entre eles a segurança pessoal, e manutenção de nossa saúde, por vezes acabamos abrindo mão da tão buscada privacidade. Se perguntarem se alguém gosta de ter seu carro visualizado 24 horas na internet, certamente ouvirão um redundante NÃO como resposta, mas fazem isso em busca de segurança. Que pena!