12 de março de 2007

A irresistível sede de comunicação

O que nos faz humanos? O que nos faz diferentes de tantas outras formas de vida? Uns dizem que é a consciência. Outros dizem que é a presença da alma. Outros dizem que é a linguagem. Qualquer que seja a resposta, o fato é que o ser humano tem uma sede irresistível por comunicação, com o mundo e com seus semelhantes. Nesse contexto, a Internet é apenas mais um meio de comunicação, em uma lista que se estende desde os primeiros rituais pré-históricos, passando pela invenção da palavra falada, até o mundo moderno. Somos ainda os mesmos animais tribais. Temos sede de nos relacionar.

O curioso é que esta sede, de tão onipresente, passa muitas vezes despercebida. Empresários, engenheiros e marqueteiros investem incontáveis horas criando novos modelos de negócio em telecomunicações. Muitos desses modelos se centram em outras necessidades do ser humano. O desejo de status; a busca do entretenimento, da diversão; a necessidade de informação. Porém, nessa busca, a necessidade primária do ser humano é muitas vezes relegada a segundo plano.

Acho curioso ver empresas de telecomunicações e tecnologia investindo milhões para desenvolver novos negócios, envolvendo mídia digital, quando o próprio negócio de comunicação inter-pessoal ainda poderia render muitos dividendos. Acho que é um pouco como aquela história do patrício que perdeu as chaves no meio da rua e estava procurando debaixo do poste, porque lá tinha mais luz. Pensar no negócio de conteúdo é tentador porque envolve glamour, envolve status, e também porque é aparentemente mais simples, porque toda comunicação é unilateral. A indústria de Hollywood é a luz embaixo do poste.

Pensar no negócio da comunicação inter-pessoal é mais complicado, e também mais arriscado. Não há como controlar o conteúdo envolvido. A mesma rede que usamos para conversar com nossos parentes distantes sustenta a Al Qaeda. Porém, a sede de comunicação do ser humano é inextinguível.

Fica portanto uma idéia para as operadoras de telecomunicações: esqueçam o conteúdo. Pensem nos seus usuários. Pensem no que eles precisam para se comunicar. Tornem a experiência agradável. Tornem os sistemas convenientes de usar. Facilitem a vida das pessoas. Deixem que elas encontrem-se umas às outras. Permita a elas que multipliquem sua rede de relacionamento. Elas vão se comunicar, como tem feito desde que o homem veio ao mundo. O efeito de rede será avassalador.

Um comentário:

Edu@rdo Rabboni disse...

Meu amigo Carlos, não seria o caso de fazer isso OU aquilo (voz ou conteúdo) mas fazer isso E aquilo (voz E conteúdo), isso porque atende as necessidades e expectativas do mercado. O serviço é pervasiso, possui ubiquidade, pode ser síncrono ou não, unilateral ou simultâneo, pode ser desejo de se comunicar imediatamente, quando der, ou apenas mandar um recado (inclusive via secretária eletrônica....como bem fazem nossos irmãos da América de cima...). Tenho várias necessidades que podem ser supridas por minha operadora de Telecom, dentre elas: necessidade de me organizar, convidar pessoas para eventos, me divertir, divertir as pessoas e me comunicar claro. Concordo totalmente contigo quanto a praticidade e simplicidade de uso em tudo que fazemos, não há como ter expectativas grandes sobre um serviço complicado de usar e mais complicado ainda de se vender, provavelmente desapontará a todos. De resto temos que fazer de tudo e mais um pouco. Abraços.