2 de novembro de 2007

Jornalismo 2.0

Desde que a Web começou a ganhar importância, se fala que os jornais tradicionais vão acabar. Agora, na era do YouTube, não é só o jornalismo impresso que está ameaçado. Estamos vivendo o fim de uma era. O jornalismo 2.0 está nascendo agora, debaixo do nariz da Globo e de outros gigantes da mídia.

O jornalismo tradicional é um exemplo clássico da cultura da escassez. Tanto o espaço do jornal como o tempo do leitor são limitados. Por isso, o critério de seleção de material é a fundação de um jornal. A solução tradicional é um modelo hierárquico rígido. O editor-chefe dá o tom do jornal; monta a pauta, define quais notícias são dignas de serem publicadas, onde serão publicadas, quanto espaço (ou tempo) cada uma terá, etc. O modelo também é marcado pelo corporativismo: a premissa de que somente um jornalista formado possa escrever ou selecionar notícias não se sustenta, bastando ver quantos dos melhores jornalistas do mundo jamais estudaram jornalismo, sendo formados em outras áreas.

A Web atual é a antítese da escassez. Qualquer um pode ser editor, selecionando e filtrando material encontrado através um site de busca ou seguindo as dicas repassadas pelos amigos. Qualquer um pode ser um jornalista. Nesta semana Twitter foi o primeiro veículo a ter informações quentes sobre o terremoto em San Jose. O Twitter é um site social que mescla Web e SMS, sendo uma plataforma excepcional para propagação instantânea de informações - toda ela gerada pelos próprios usuários.

A reação da mídia tradicional varia. Acho que alguns estão no caminho certo. A Reuters investiu no BlogBurst, que distribui conteúdo de blogs para a mídia tradicional. A mesma empresa também aceita submissão de fotos jornalísticas tiradas por amadores diretamente no site. O diferencial dessa abordagem é simples - o reconhecimento de que o conteúdo gerado pelos próprios leitores tem valor e supera em qualidade e novidade o conteúdo gerado dentro do modelo tradicional.

Já outras empresas parecem não ter entendido ainda o que está ocorrendo. A reação da imprensa belga ao Google News, por exemplo - cortando a própria fonte de acessos em vez de se aliar. Outros ainda tentam proteger seu conteúdo assinando acordos exclusivos com sites populares como o YouTube ou o Facebook. Grandes grupos, como a Fox e mesmo a rede Globo, investem pesadamente - mas a tentativa tem mais um "cheiro" de tentar manter o modelo atual do que de se adaptar aos novos tempos. Pode até parecer que funciona agora... mas a longo prazo, não vai funcionar.

P.S. O recente escândalo do leite mostra a força que a mídia tradicional tem no Brasil. Ou seja, ainda é cedo. Mas como toda revolução, muitas vezes a mudança só é perrcebida quando é tarde demais.

Um comentário:

Edu@rdo Rabboni disse...

Lendo a VEja dessa semana, percebo um sinal claro da preocupação da mídia tradicional com a mídia digital, há um anúncio da Almap dizendo que "...a mídia tradicional e a propaganda tradicional nunca acabarão, quem acabará serão os profetas do apocalipse digital..." bem, quando uma bem estabelecida empresa do mundo tradicional desce dos píncaros da liderança para citar algo que começa a surgir nos meios de comunicação é porque está começando a incomodar, e essa briga promete esquentar nos próximos capítulos, quem viver verá!