7 de maio de 2008

O IP morreu, longa vida ao IP!

Assim como o rei da fábula, o IPv4 um dia vai "morrer" para ser substituído por outro IP. O herdeiro da Internet é o IPv6, protocolo que já conta com 14 anos de vida, mas ainda é muito pouco utilizado. É como se o rei já estivesse idoso, e até um pouco doente, mas se recusasse a passar o trono para o príncipe. Mas o fato é que o IPv4 tem limites. Os endereços disponíveis eventualmente vão se esgotar em breve - no começo de 2011, segundo previsões recentes. E aí a Internet vai parar de crescer. Será?

Se pensarmos na Internet como ela é hoje, a migração para IPv6 é inevitável. Mas a Internet evoluiu muito desde o anúncio do IPv6 em 1994. Os circuitos operam em dezenas de Gigabits por segundo. A capacidade de processamento dos roteadores aumentou imensamente. Com isso, funcionalidades que antes eram inimagináveis hoje são possíveis. E essa pode ser a salvação da Internet, e também o fim da rede como a conhecemos hoje.

Nos últimos quinze anos, a Internet se transformou de uma rede "orientada a pacotes" em uma rede "orientada a conteúdo". Detalhes como endereços IP são cada vez mais distantes do usuário comum. Em seu lugar, outro identificador ganhou importância: as URLs, também conhecidas como "endereços da Web". Hoje, cada URL é traduzida para um endereço IP específico. Isso ainda é necessário porque os roteadores trabalham com IPv4 e precisam de endereços únicos para encontrar o destinatário.

Na nova Internet, as URLs vão ganhar mais importância. Cada documento pode ser identificado por uma URL única, sem restrição de numeração. E nada impede que os roteadores processem as URLs diretamente, tratando o conteúdo ao invés dos endereços IP. Os elementos para construir essa nova rede já existem. São "proxies", aceleradores de conteúdo, e outros tipos de elemento que tratam os objetos da Web diretamente. Um exemplo está nas "redes de distribuição de conteúdo", como o Akamai. A arquitetura interna do Google trabalha fortemente com o conceito de replicação de objetos. E as ferramentas de compartilhamento de arquivos "peer to peer" foram concebidas para operar exatamente dessa forma.

Uma consequência dessa evolução é que o protocolo da rede passa a ser irrelevante. Hoje a Internet ainda depende de um endereçamento global consistente. Mas em uma rede de conteúdo, nada impede que uma parte da rede seja IPv4 e outra seja IPv6. Nada impede que várias redes IPv4, com endereços duplicados, se comuniquem entre si através de um "gateway de conteúdo". O que interessa é a URL, que identifica o conteúdo desejado, seja única.

A proposta pode parecer descabida, mas acredito que ela se aproxima mais da dinâmica do mercado do que uma eventual migração em massa para o IPv6 jamais seria. Aliás, diga-se de passagem, muita gente vai migrar para o IPv6. E assim como o bug do milênio, muita gente vai ficar sem entender depois se todo o barulho (e todo investimento) foi justificado. Enquanto isso, alheio a tudo isso, novas aplicações Web vão continuar a crescer, criando uma nova "Internet de camada 7". É uma boa aposta, que vale a pena pagar para ver.

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