25 de agosto de 2008

Rumo à Geração Vídeo

Filosofando sobre o post do Eduardo Rabboni sobre educação digital, fica cada vez mais evidente a necessidade de se pensar em uma educação mais adequada para a realidade que se apresenta para as crianças e adolescentes de hoje. Alguns itens são fundamentais, como aprender a proteger a identidade digital, pesquisar na Internet para fazer trabalhos, ou lidar com a sobrecarga de informação. Também se torna cada vez mais importante saber identificar ameaças e conteúdos perigosos, como vírus e coisas do tipo.

Mas não é só no comportamento online que a escola precisa ser atualizada. A educação tradicional ainda é fortemente baseada na linguagem escrita. Existem inúmeras razões para isso, até mesmo de ordem prática. A escrita se firmou como a forma mais fácil e precisa de registrar idéias. O alfabeto partiu dos hieroglifos e evoluiu no sentido da simplicidade. As características da linguagem escrita (e especialmente do alfabeto ocidental) permitiram o surgimento de tecnologias como a imprensa, que baratearam a difusão de conhecimento.

A mudança vem a reboque da tecnologia. Pela primeira vez na história, a expressão de idéias em forma gráfica e visual se torna possível em larga escala. Recursos como câmeras fotográficas digitais, câmeras de vídeo, Photoshop, Flicker, e tantos outros, tornam a edição de imagens e vídeos acessível para qualquer pessoa. O resultado é a explosão de serviços como o YouTube e o próprio Flicker. Mas essa mesma tecnologia também serve para salientar o crescimento de um "gap" entre aqueles que realmente sabem trabalhar com essas ferramentas e o restante das pessoas.

Somos muito influenciados pelas imagens. Para ler um livro, uma pessoa precisa ser minimamente alfabetizada; por outro lado qualquer pessoa pode observar uma foto ou assistir um filme e entender do que se trata, de forma muito mais natural. Mas poucas pessoas sabem se expressar realmente bem nesses meios. Escrever bem já é complicado (que o diga a qualidade do português de nossos universitários), mas produzir e editar um vídeo requer muito mais do que conhecimentos linguísticos; requer senso estético, domínio da dinâmica do tempo, e conhecimento das nuances psicológicas transmitidas por cada imagem.

A evolução da comunicação por meio de vídeo tem tudo para criar uma divisão no mercado de trabalho entre as pessoas que sabem trabalhar e produzir material nesse formato e o restante das pessoas. Candidatos que consigam pensar e trabalhar em termos de imagens conseguirão melhores resultados. Também serão mais eficientes (e eficazes) na sua comunicação, e terão melhores oportunidades de trabalho. Hoje nossas escolas estão despreparadas para esse futuro, e não existe ainda nenhum movimento nesse sentido. Ainda estamos transpondo o abismo anterior, da inclusão digital. Mas o abismo da expressão digital e da interatividade continua crescendo. Da forma como vamos, gostando ou não disso, caberá aos pais cuidar para que seus filhos consigam ter uma educação adequada, desenvolvendo a compreensão desse novo mundo, de forma que possam estar melhor preparados para o seu próprio futuro.

21 de agosto de 2008

Só para convidados

O telefone foi uma das maiores revoluções da história da humanidade. Além de encurtar distâncias, o telefone é democrático: qualquer telefone fala com qualquer outro, basta saber o número. É essa liberdade que garante que você possa consultar o catálogo para agendar um médico a qualquer hora do dia, ligue para telefones anunciados nos classificados dos jornais, ou fale com alguém com quem nunca falou antes para se apresentar, fazer negócios, ou simplesmente conversar.

A revolução da telefonia IP ameaça o fim desse "sonho democrático". A única coisa que impede que o seu telefone seja bombardeado por chamadas de telemarketing é o preço da chamada. Se a telefonia for gratuita (ou muito barata), vamos descobrir que os "spammers" de voz podem ser muito piores do que os "spammers" de correio.

Hoje, "grosso modo", o telefone fica disponível 100% do tempo (exceto quando está ocupado, mas isso não vem ao caso). O identificador de chamada do celular já permite um certo nível de controle, porém ainda é impreciso e totalmente manual. Novas tecnologias permitirão que os usuários controlem com mais rigor sua disponibilidade, automatizando a filtragem das chamadas. Assim, é possível que nesse novo mundo os telefones deixem de ser democráticos e passem a ser "só para convidados". De forma similar ao que acontece com o MSN, você só receberá chamadas das pessoas que tiver autorizado previamente.

É discutível se esse novo mundo será melhor do que o mundo de hoje. Usando uma expressão "gringa", joga-se fora o bebê junto com a água da banheira. Vamos ganhar conforto e controle. Vamos perder diversidade, e a chance de estabelecer novos contatos. Podemos nos fechar em ilhas, e perder oportunidades que teríamos ... "se tivéssemos atendido aquela ligação".

18 de agosto de 2008

O crescimento da "blogosfera brasileira"

Comecei com esse blog alguns anos atrás para experimentar com o formato. Queria fazer um blog em português, onde pudesse falar um pouco de tudo: tecnologia, negócios, e um pouco do lado pessoal. A idéia foi muito influenciada pela experiência de ler os principais "blogs" americanos. Lá fora, jornalistas e executivos de grande experiência produzem blogs com um conteúdo altamente valioso. Mas conversando sobre blogs no Brasil (e especialmente blogs corporativos), a primeira reação é de descrença. Surgem várias perguntas:

- Será que esse tipo de coisa pega no Brasil?
- O que é que eu ganho produzindo informação "de graça"?
- Será que não é perigoso abrir informações da empresa assim no mercado?
- Será que isso tudo não é modismo e perda de tempo?

Por muito tempo, a carência de bons blogs brasileiros parecia comprovar as alegações dos "conservadores de plantão": o brasileiro não gosta de ler (e muito menos de escrever), isso é só um modismo, etc. Mas aos poucos as coisas mudam. Um exemplo são os podcasts - a CBN, por exemplo, disponibiliza podcasts diários de seus comentaristas. A organização ainda não é a ideal - deveria ter um canal RSS para cada comentarista, o que facilitaria para seguir somente o conteúdo desejado - mas já é um progresso.

Outro exemplo alentador é o blog do Jucelino Sousa, presidente da AleSat Distribuidora de Combustíveis. O blog é atualizado quase diariamente, e como um bom blog, cobre um pouco de cada coisa da rotina diária do executivo: família, futebol, olimpíadas... além é claro de posts excelentes com análise do mercado brasileiro de distribuidoras de combustíveis, e curiosidades sobre o setor.

Não sei quantos outros executivos brasileiros conseguiriam fazer o que o Jucelino faz. Vendo o perfil dele (no próprio site), vemos que é um executivo novo (42 anos), com sólida formação acadêmica como engenheiro químico e uma carreira cheia de realizações. Talvez essa combinação de idade, conhecimento técnico e empreendorismo o torne um pouco mais propenso a experimentar com o formato. Mas pode ser também um pequeno "sinal dos tempos" e da própria maturidade da blogosfera brasileira.

Esse tipo de postura vem sendo adotada aos poucos por grandes executivos e líderes mundiais. Hoje em dia pode parecer irrelevante, mas por trás disso existe uma postura mais aberta, focando na comunicação e com a colaboração. Vários especialistas acreditam que essa postura trará grandes ganhos para as empresas que as adotam a longo prazo, à medida que o mercado amadurecer. Se uma empresa de um setor tão tradicional como a ALE consegue fazer isso, talvez seja sinal de que a mudança esteja mais próxima do que imaginamos.