1 de setembro de 2007

Convergência - ou Jobs, Gates, e o mundo móvel

Viajei longe agora.

Estava lendo um post da Bia Kunze que falava, entre outras coisas, sobre convergência - usar um só dispositivo como smartphone e como mp3 player. Ela se mostra surpreendida por ter abandonado aos poucos o seu iPod Nano em favor do seu telefone novo HTC Touch. Para mim é uma surpresa também. Vejamos:

  • Cada dispositivo tem suas próprias exigências ergonômicas. Acho complicado fazer um telefone, uma câmera digital e um MP3 player no mesmo formato. Acho que alguma coisa acaba sacrificada em termos de usabilidade.
  • A bateria é um ponto fundamental, e pelo que a Bia comenta, é o ponto forte do HTC Touch.
  • Finalmente, tem o problema da integração de software, e é aí que a viagem começa.
A viagem começa pouco mais de dez anos atrás, quando surgiu o primeiro "handheld" de verdade, o Palm Pilot. Foi o divisor de águas na indústria de portáteis - era prático, usava pilhas comuns, e tinha um software extremamente simples, que... funcionava. A Apple já tinha tentado entrar nesse mercado antes, com um produto visionário, o Newton, que simplesmente não colou. O produto era caro, grande demais, e tinha um software instável.

A Apple quase quebrou por conta dos fracassos da época, Newton incluído. Uma década depois, o iTunes e o iPod formam a dupla que catapultou a Apple de volta para o topo do mercado. Onde foi que a Apple acertou?

Na integração do software.

(ok, o design é fantástico, mas isso não adianta nada se o produto não for fácil de usar)

Ao tornar simples o processo de gerenciar a biblioteca de músicas, a dupla iPod e iTunes se tornou um sucesso. É a diferença entre copiar arquivos em um pen drive, ou comprar música por $0.99 com um clique e sair ouvindo. Gente normal consegue usar.

O que está acontecendo agora, e qual é a viagem então?

A Microsoft parece que finalmente está chegando lá. A Bia comenta que o a edição móvel do Windows Media Player já é suficiente prática para substituir a dupla da Apple no seu dia a dia. Eu sinceramente achei que isso ia demorar pra acontecer. A vantagem que a turma de Jobs & cia limitada tem nesse novo mercado é fantástica, mas aos poucos, parece que a Microsoft vai reduzindo essa distância.

A Apple sempre se caracterizou por produtos extremamente bem concebidos, altamente integrados - verdadeiros sonhos de consumo. Porém, com exceção do Apple II - que era completamente aberto - todos os seus outros produtos são fechados. Sua estratégia é baseada no controle rigoroso sobre o desenvolvimento do produto, sem abertura para ofertas de terceiros.

Já a Microsoft, apesar de ser uma defensora ferrenha de sistemas proprietários e APIs fechadas, sabe jogar com sistemas abertos quando isso lhe convém. Sua estratégia de licenciamento é mais flexível. Essa forma de jogar foi determinante para que ela alcançasse a posição invejável que tem hoje. Se ela igualar a Apple no terreno onde esta é mais forte, acredito que seja questão de tempo para que a Microsoft tome o mercado.

Vem daí minha viagem de hoje. Já imaginaram o que aconteceria se a Apple tivesse como sócio o Sr. Bill Gates? Imaginem se ela pudesse aliar sua fantástica capacidade de desenvolvimento, sua visão de integração, com um pouco mais de pragmatismo e uma visão mais ampla do mercado. Onde essa combinação iria nos levar?


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