9 de maio de 2005

Um pouco de Linus, 'o chefe'

Há alguns meses atrás, a revista Business Week incluiu Linus Torvalds na sua lista dos dez melhores administradores do ano. O motivo da inclusão é simples. Apesar de não ser um 'manager' no sentido tradicional da palavra, Linus é sem dúvida um líder nato, com um instindo fascinante para tomar a decisão correta, mesmo que isto não pareça óbvio a princípio.

Recentemente, o mesmo Linus se envolveu em uma discussão feia com outros desenvolvedores notórios, particularmente com Andrew Tridgell, o principal responsável pelo Samba. Na verdade, foi apenas o desfecho de uma história de anos, desde que o Linus optou por usar uma ferramenta fechada -- o BitKeeper, um sistema distribuído de controle de código-fonte que é apontado pelo próprio Linus como uma das razões para o impressionante aumento de produtividade da equipe central do Linux nos últimos três anos. O BitKeeper, segundo o Linus, oferecia o que nenhum outro sistema aberto poderia oferecer na época: um ambiente altamente produtivo para um projeto do porte do kernel do Linux. Pragmático como sempre, em 2001 ele (Linus) tomou a decisão de adotar o BitKeeper. Foi uma decisão complicad, que nunca agradou totalmente a muita gente. Porém, como bom líder, ele se impôs naturalmente, e o que muitos temiam -- uma divisão, ou 'fork', do sistema -- não aconteceu.

No entanto, a bomba relógio estava lá. E foi o Andrew Tridgell que a detonou. A licença do BitKeeper para uso com o Linux permitia certos tipos de uso livre, mas a licença era leonina. Para complicar, os formatos internos do sistema eram fechados. Tridgell tem uma experiência fenomenal com engenharia reversa; afinal, é ele o principal responsável pelo mesmo processo no Samba. Usando seu arsenal de técnicas, ele iniciou um processo de análise do BitKeeper. O autor do BitKeeper, Larry McVoy, não gostou nem um pouco. Em poucas semanas, o problema se tornou inadministrável, até que o inevitável aconteceu. McVoy revogou a licença gratuita para o uso do BitKeeper em código aberto, e em consequência, o Linus Torvalds decidiu abandonar o BitKeeper completamente. No processo, o Linus ainda fez algo que muitos não entenderam: se irritou com o Andrew Tridgell, que do ponto de vista estritamente técnico, estava certo.

Acontece que o Linus não é só um programador. É um gerente, e dos melhores. Ele estava apenas sendo pragmático; devido a um disputa que talvez fosse evitável, na sua opinião, a equipe do kernel perdia a sua melhor ferramenta de trabalho. Porém, justo quando muitos julgaram que o Linus havia dado um passo em falso, ele retorna ao comando, com um trabalho brilhante. Em poucos dias de trabalho, ele analisou as opções de mercado, e continou insatisfeito com o que via. Assim, na falta de soluções, ele criou sua própria solução, com o brilhantismo de sempre. Simples e pragmático. Ao invés de reescrever o BitKeeper, ou de tentar melhorar outros sistemas que eram inerentemente diferentes, ele se ateve ao básico, e escreveu uma pequena quantidade de código. Um novo kernel, por assim dizer -- não para um sistema operacional, mas para um repositório distribuído de arquivos.

O novo sistema, chamado git, já está mostrando seu potencial. Mas o mais importante não é o aspecto técnico, mas o aspecto político. Mais uma Linus Torvalds deu a volta por cima, e mostrou a sua capacidade de se manter no posto de líder do desenvolvimento do Linux. Sua habilidade em identificar o problema e focalizar na solução continuam sendo únicas. Como um líder normal, ele pode cometer falhas, ou se irritar quando as coisas não andam a seu favor. Mas é sem dúvida um líder de fato, e um dos melhores que existem atualmente.

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