31 de maio de 2005

A grande revolução do desktop está por vir

Qual foi a última grande revolução que atingiu os 'desktops' em escritórios, desde pequenas a grandes empresas? Nos últimos anos, a dupla Windows + Office atingiu um status de onipresença praticamente absoluta. No entanto, se observarmos bem, desde o Office 97 (lançado há oito anos atrás!), muito pouca coisa mudou. As principais diferenças são cosméticas, sendo que a funcionalidade principal de cada parte do pacote continua sendo basicamente a mesma.

Há bons motivos para acreditar que grandes mudanças estão por vir. Nos dois últimos anos, novas aplicações Web começaram a aparecer. De um ano para cá, o movimento se acelerou. O Google Labs produziu diversas novidades, cada uma revolucionária a seu modo: GMail, Google Suggest, Google Maps, entre tantos outros. Cada vez mais, fica evidente que é possível oferecer uma interface rica para aplicações através de um browser.

O fato de uma aplicação ser baseada em um browser tem uma implicação importantíssima: ela se torna naturalmente integrada em rede, o que torna possível um grau de interação e mobilidade que não é possível com arquiteturas de desktop tradicionais. A Microsoft percebeu isso tarde demais; em um primeiro momento, ela tentou evitar o inevitável, suspendendo o desenvolvimento da sua plataforma Web (é por isso que o IE6 parou no tempo). Recentemente, ela retomou o caminho, quando ferramentas como o Firefox começaram a recuperar espaço no mercado.

No entanto, as aplicações Web ainda tem um ponto fraco: elas são incomparavelmente menos poderosas e convenientes do que as ferramentas de produtividade tradicionais para determinadas atividades. Por exemplo, há pacotes de CRM totalmente baseados em Web, como o SugarCRM e o vtiger; no entanto, funções como editar uma carta ou uma planilha de preços ainda dependem da integração com as ferramentas do Office.

A abordagem de código livre para este problema é bastante pragmática: usando componentes abertos, é possível compor uma solução mista, integrando as funções de workflow. No entanto, o resultado ainda depende de muita integração manual.

A seu turno, a Microsoft está mirando nesta como a grande oportunidade para diferenciar as versões futuras do Office e do Longhorn. O Office 12 está sendo desenhado para incorporar funcionalidades avançadas de controle de documentação dentro de empresas. Isto vai muito além do workflow tradicional, e envolve uma integração com aspectos de segurança e arquivamento que estão se tornando uma necessidade legal em vários países. A possibilidade de rastrear um documento, verificar mudanças, ou limitar o que é possível dentro de um documento aberto são funcionalidades totalmente novas, e que abrem um horizonte muito amplo para o uso empresarial.

Na minha opinião, acho que as mudanças que vamos ver nos próximos dois anos serão muito mais do que incrementais; serão mudanças revolucionárias, de impacto tão grande como a introdução do Windows ou da Internet dentro das empresas. Serão novas oportunidades para os players estabelecidos e também para os entrantes no mercado. Será, eventualmente, a prova de fogo entre os proponentes de soluções abertas -- que naturalmente oferecem mais flexibilidade em um ambiente de rede -- e os proponentes de soluções tradicionais, principalmente a Microsoft, que podem oferecer um pacote mais restrito, porém melhor integrado.

Finalmente, uma observação importante: o salto de produtividade e qualidade que estas novas ferramentas darão a pequenas e médias empresas terá, sem dúvida, um impacto considerável sobre o mercado como um todo. As grandes empresas já dispõe de ferramentas automatizadas de workflow, que de uma forma ou de outra lhes dão uma vantagem competitiva sobre seus concorrentes. No entanto, a disponibilidade destes recursos em plataformas mais populares -- seja via Windows, seja via plataformas abertas -- vai tornar possível a adoção destas mesmas técnicas por empresas menores. O resultado deste impacto é difícil de prever, mas eu acredito que será efetivamente revolucionário, ainda que em um prazo um pouco mais amplo.

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