24 de agosto de 2004

Memórias de um acidente radioativo

Um dos filmes mais impressionantes que eu j´ assisti -- capaz de revirar o estômago pelo simples fato de ser baseado em um caso real -- foi o K19 - The Widowmaker. O filme tem lá suas incorreções e usa de algumas licenças cinematográficas para ampliar o drama, especialmente no que toca ao clima da guerra fria. Em um certo sentido, a história real é muito mais dramática, e também mais perturbadora. No entanto, a parte fundamental da história traduz um profundo sentimento humano: a luta de uma tripulação despreparada para enfrentar um acidente nuclear, dentro do ambiente inescapável de um submarino. Cada homem que é designado para trabalhar nas operações de reparo sabe que está assinando a sua própria sentença de morte, mas executa suas funçõ com a consciência do dever cumprido -- não com a Marinha russa, mas com seus companheiros de tripulação.

Lembrei-me disso quando li hoje uma entrevista com um dos engenheiros que estava em Chernobyl no dia do acidente, em 1986. O depoimento é de uma clareza e simplicidade assustadoras. Deixa clara também a impotência dos que ali estavam para lidar com o inesperado. Nã o se trata aqui de fazer juízo da necessidade de se trabalhar com algo tão perigoso como a energia nuclear; trata-se de lembrar da impotência humana frente a um universo muito mais poderoso do que supomos, mas que mesmo assim se traduz em uma imensa capacidade de superação individual. Nesta história, não surgem heróis capazes do impossível. São pessoas comuns que revelam sua grandeza ao fazer o que pode parecer mais simples -- simplesmente sobreviver.

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