11 de agosto de 2004

O P2P veio para ficar, e os ISPs que se preparem...

Ao longo dos últimos anos, o tráfego peer to peer (ou P2P, para abreviar) só fez crescer em todo o mundo. Os ISPs, de uma forma geral, foram pegos de surpresa pelo crescimento do tráfego. Para piorar, o aumento do tráfego de material de vídeo fez com que a demanda por banda subisse de forma assustadora. A reação dos ISPs tem sido no sentido de tentar limitar o tráfego P2P. Eles temem não conseguir recuperar seus investimentos em estrutura, pois o preço do acesso é baixo, e a demanda de banda não para de subir.

Como diria Andrew Odlyzko, "content is not the king". As pessoas se conectam à Internet para se comunicar, e obviamente, P2P é o caminho a seguir. No entanto, ao limitar o tráfego, os ISPs estão indo contra o mercado, estabelecendo limites artificiais. O tiro, a médio e longo prazo, pode sair pela culatra.

Os provedores de trânsito de longa distância (como a Sprint e outras do gênero) já perceberam o que está acontecendo. Para eles, o tráfego é tráfego, não interessa de quê, e quanto mais, melhor. Porém, os provedores de acesso locais foram pegos de surpresa, pois construíram suas redes baseadas em uma suposição otimista de tráfego. O oversubscription é alto, e a capacidade dos canais de upstream é limitada. Por isso, teme-se que o aumento do tráfego peer-to-peer sobrecarregue a estrutura a ponto de torná-la inviável.

O problema vem tendo sua importância aumentada na mídia especializada por duas razões que nada tem a ver com engenharia de tráfego. Primeiro, há o medo de que o ISP, de alguma forma, seja responsabilizado pela pirataria. Isso é (ou deveria ser) uma grande bobagem; nenhuma operadora de telefonia do mundo é responsabilizada porque alguém planejou uma conspiração por telefone, e nem os correios o são por entregar correspondências ilícitas. Eles são apenas o meio de transporte. A segunda razão é o mercado - há muitas empresas vendendo soluções de controle de banda, e interessa a elas que os ISPs comprem seus produtos. O que elas fazem? Divulgam números alarmantes, e destacam as questões éticas ligadas à pirataria. O resultado? Manchetes nas revistas especializadas, que alarmam a qualquer um que não estude o tema mais a fundo.

Construir um argumento lógico para combater esta abordagem é difícil. Tenho para mim a certeza de que o tráfego P2P não apenas veio para ficar, mas se tornará a peça fundamental na independência dos ISPs. O oposto do P2P - o modelo de conteúdo central - joga todo poder na mão do provedor de contéudo, e torna o ISP um mero provedor de canais, sem valor agregado. Por isso, não entendo a intransigência em atacar o problema de outra forma, que seria mais produtiva a longo prazo.

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