26 de agosto de 2004

A nova ordem mundial

Li com muito interesse o material disponível no site Global Guerrillas, que discute os riscos de uma guerra global contra os novos grupos de guerrilha que estão surgindo desde o ataque ao WTC. O autor argumenta que as novas guerrilhas são muito mais perigosas para a ordem mundial do que se imagina, e que a doutrina vigente de poderio militar não se aplica ao combate contra este tipo de insurgência.

A teoria das guerrilhas globais se baseia em alguns princípios: uma rede de organizações dispersas; ações de ataque contra a infraestrutura existente; e o surgimento de um mercado global da violência. Segundo o autor, este mercado financia a violência diretamente, aproveitando-se da infraestrutura de comunicação existente: telefonia, Internet, sistemas bancários, etc. O financiamento ocorre em escala global, mas depende de ações locais, relativamente pequenas, que são muito mais difíceis de monitorar.

O poder de ataque e de disrupção da ordem destas guerrilhas é desproporcional ao seu tamanho real. Ao atacar a infraestrutura existente, elas multiplicam os efeitos diretos do ataque, afetando setores muito maiores da economia. Os ataques de guerrilha à infraestrutura de produção de petróleo do Iraque mostram claramente este efeito. Estima-se que um ataque combinado aos campos do Iraque e da Arábia Saudita (que não está totalmente fora de questão) poderia fazer o barril de petróleo chegar à marca de US$100.00 -- o suficiente para provocar uma recessão global em larga escala.

O mais preocupante, dentro deste cenário, é a afirmação de que a doutrina militar e política vigente está mal preparada para lidar com este tipo de ameaça. Os ataques ao Iraque e ao Afeganistão foram lançados com o objetivo de derrubar governos que não se alinhavam com a ordem mundial, e que ofereciam perigo através das armas de destruição em massa. Porém -- segundo a teoria das guerrilhas globais -- um estado fraco é pior que um estado inimigo. Os atuais governos do Iraque e do Afeganistão são incapazes de deter a guerrilha interna, e por extensão, criam um ambiente que ajuda a multiplicar esta guerrilha pelos países vizinhos. O processo funciona como um foco de infecção, que sabe identificar e explorar pontos vulneráveis, criando focos que são difíceis de extirpar.

Tenho ainda uma opinião pessoal sobre outro fator que torna o cenário mais complexo. Há uma disparidade muito grande entre a visão local e a visão global do processo. As células de redes como a Al Qaeda operam dentro de uma visão local, e a meu ver, não tem uma visão muito clara do seu impacto global. O processo traz consigo uma grande dose de idealismo, além de uma certa inocência e romantismo -- a capacidade do pequeno de derrotar o grande. Porém, acredito que os próprio membros das células não tem uma noção muito clara do seu impacto global, confiando apenas na mensagem de seus líderes. A falta de uma visão global clara torna o pensamento crítico impossível, e apenas favorece o fortalecimento das células e da sua determinação em ganhar suas próprias batalhas a qualquer custo.

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