16 de agosto de 2004

Uma questão de perspectiva

Existe uma perspectiva correta para se capturar a essência da Internet? Antes de responder a esta pergunta, um pouco de história.

O conhecimento atual sobre a utilização da Internet é basicamente orientado pelas necessidades do mercado. Muito se escreve sobre a importância de atrair tráfego para um site, e depois manter os usuários lá dentro. O fim dos anos 90 viveu a febre dos portais. A lógica vigente dizia que somente os maiores portais sobreviveriam, retendo os usuários dentro de seus domínios. Todos os grandes sites de pesquisa -- mais notavelmente, Yahoo!, Netscape Netcenter e Altavista entraram nesta onda. Cinco anos depois, somente o Yahoo conseguiu se estabelecer como um portal, e os outros saíram do mercado. Em meio a este movimento, surgiu o Google, mostrando um fato fundamental: em geral, as pessoas não dão a mínima para o conceito de portal, e só querem achar o que precisam o mais rapidamente possível.

Anos depois, o que será que o mercado realmente aprendeu com esta lição? Muito pouco, se pensarmos em termos mais amplos. A visão da Internet continua sendo baseada na perspectiva do lado da oferta, em detrimento da compreensão do lado da demanda. O lema "Build, and they will come" traduz esta inversão notável dos princípios fundamentais de marketing. Nem mesmo o conceito de personalização apregoado pelos especialistas do marketing 1-1 vai longe suficiente; o aspecto central do paradigma continua sendo o site como um ponto focal de interesse. Os clientes são diferenciados pelas suas particularidades, mas no todo, continuam sendo tratados como uma massa uniforme de potenciais compradores.

Voltando à pergunta inicial, qual é a perspectiva correta para entender a Internet? Por menos que isso agrade a quem interessa, não é a visão apregoada pelos grandes geradores de conteúdo. A visão predominante da Internet é a dos seus clientes, e ela não é única; é fragmentada, e tão particular quanto são as diferenças entre as pessoas.

Uma vez entendida, a percepção da Internet como um meio não homogêneo cuja percepção correta depende do ponto de vista do cliente muda completamente a equação. Não se trata de produzir grandes sites, com um processo de navegação que tenta conduzir o cliente ao longo do caminho. É o contrário -- entregar para o cliente aquilo que ele precisa, aquilo que ele pediu, nem mais, nem menos. E acima de tudo, permitir que o cliente possa compor a sua própria visão do que a rede significa, e das suas próprias conexões dentro dela.

A pesquisa na Internet é um dos pontos que poderia se beneficiar imensamente desta conclusão. Não existe um conceito como "resultado mais relevante" para uma busca. O resultado mais relevante depende de contexto, o que inclui a própria identidade de quem pesquisa. Há outras idéias potenciais relativas ao uso de links sensíveis ao contexto, além do entendimento de que a home page do usuário deve ser, acima de tudo, sobre e para o usuário, e não apenas um ponto de partida para a navegação, ou "portal" como (ainda) querem alguns. Os browsers atuais são péssimos em preservar o contexto das sessões de uso. Um portal orientado ao serviço do usuário poderia inverter este processo, dando as ferramentas para que o usuário gerencie o contexto da sua própria navegação de forma transparente. São muitas idéias, e muito o que pensar a respeito ainda...

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